Saúde

No ano passado, 430 mil brasileiros utilizaram Cannabis medicinal

Número de pacientes que fazem uso da Cannabis medicinal tem aumentado no País.

No ano que passou, 430 mil brasileiros usaram a Cannabis medicinal para tratar casos de doenças como epilepsia, dores crônicas ou transtornos neuropsiquiátricos. Houve alta de 130% em relação a 2022. A maior parte dos produtos é importada.

Somente no primeiro trimestre, o Ministério da Saúde gastou R$ 768 mil para atender a ordens judiciais e fornecê-los aos pacientes, quase o quíntuplo do gasto de 2021. Até outubro, a Anvisa já emitira 114.782 autorizações de importação, 73,4% a mais que no mesmo período de 2022. A maior despesa tem cabido aos Estados: seis unidades da Federação gastaram até outubro R$ 39,1 milhões para atender às ordens da Justiça (R$ 25,6 milhões só em São Paulo).

A corrida ao Judiciário acontece porque a atual legislação permite a importação, mas não o cultivo da Cannabis para fins medicinais. O custo é alto — alguns produtos importados podem chegar a R$ 4 mil — a ponto de impedir muitas famílias de usar o tratamento. As estratégias não garantem sucesso. Em geral, os médicos precisam detalhar os motivos para uso do produto e atestar que já tentaram outros tratamentos. Muitos pacientes procuram a Justiça também em busca de autorização para cultivar a planta em casa. Mas isso ainda é proibido no Brasil.

As dificuldades, aliadas à demanda crescente, têm levado alguns estados a aprovar leis para fornecer os produtos no SUS. São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal já dispõem de legislação sobre o assunto. Sem dúvida é um avanço, mas a questão não se encerra aí. Às vezes, existe a lei, mas não a regulamentação. Na prática, isso acaba privando os pacientes. Não é uma questão simples. Faltam diagnósticos sobre as doenças para as quais o tratamento é recomendado e padronização dos produtos. Muitos não têm indicação clínica específica e não foram submetidos a testes rigorosos, daí serem tratados pela Anvisa como “produtos de Cannabis”, e não como remédios.

Em muitos casos, ainda faltam evidências científicas que comprovem a eficácia do tratamento com esses produtos à base de Cannabis. Mas não se pode ignorar que eles já são usados por milhares de brasileiros. Dezenas de associações reúnem pacientes com o objetivo de obtê-los. O plantio controlado da Cannabis, que baratearia a produção e tornaria o tratamento mais acessível, ainda depende de ordens judiciais frágeis, sujeitas aos humores das diversas instâncias e desvãos do Judiciário brasileiro.

A Justiça não é a instituição adequada para regular uma questão de saúde.

Ainda que o simples debate cause desconforto em grupos conservadores, a questão precisa ser encarada. Ignorar demandas legítimas da sociedade por motivação ideológica, ignorância ou preconceito não costuma ser o melhor caminho para resolvê-las, pois elas não desaparecerão. É hora, portanto, de tratar o tema com seriedade e sem preconceito. Sem regulamentação ou com normas frágeis, impera a desorientação e a insegurança nos tratamentos. Evidentemente, não é o caso de um “liberou geral”, mas de uma regulação cautelosa e sensata. Fechar os olhos é a pior solução. (Opinião, jornal O Globo)

Fonte: osul.com.br

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