
Em meio a onda de protestos violentos, Macron cancela viagem à Alemanha e amplia policiamento nas ruas
O presidente francês, Emmanuel Macron, adiou a viagem que ia fazer à Alemanha no domingo (2/07), em meio a uma crise de violência interna iniciada após a morte de um jovem baleado por um policial. O funeral de Nahel, de 17 anos, ocorre neste sábado (1º/07), em uma cerimônia islâmica na região noroeste de Paris.
Ainda na sexta-feira (30/06), Macron mobilizou blindados e 45 mil policiais para conter os distúrbios que já duram quatro dias, embora com menor intensidade. Ao menos 1.311 foram detidas até o momento.
Além de determinar a ampliação do efetivo de segurança, o presidente francês apelou diretamente aos pais dos menores que participaram das três noites de protestos anteriores.
O ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, também autorizou a mobilização de unidades blindadas da gendarmaria, corpo militar que tem competências de segurança pública.
À noite, no entanto, a violência retornou, com registros de destruição, saques e lançamentos de projéteis contra as viaturas da polícia, que respondia com gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Por volta das 2h30 locais, o ministro já anunciava que 471 pessoas haviam sido detidas.
Violência e atos de vandalismo foram registrados principalmente em Lyon e Marselha, segunda maior cidade da França, para onde o Ministério do Interior enviou reforços. Autoridades decretaram toque de recolher em três localidades da região de Paris e em várias outras do país.
Mounia, a mãe da Nahel, disse à rede France 5 que não culpava a polícia, mas sim o agente que tirou a vida de seu filho.
A justiça decretou prisão preventiva por homicídio doloso para o policial de 38 anos autor do disparo, cujas “primeiras” e “últimas” palavras durante sua custódia policial foram “para pedir perdão à família” de Nahel, segundo seu advogado.
A escalada de tensão
A violência explodiu na última terça-feira (27), no subúrbio de Paris, e se espalhou pelo país após a morte de Nahel, atingido por um tiro à queima-roupa disparado por um policial durante uma blitz em Nanterre, a oeste da capital francesa.
Na quinta-feira (29), dia de maior tensão, terminou com a detenção de 875 pessoas e 249 agentes feridos, assim como 492 prédios atacados e 2.000 veículos incendiados.
A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, disse que seriam estudadas “todas as opções”, entre elas o estado de emergência que a direita e a extrema direita pedem, mas optou por reforçar o número de agentes e mobilizar os blindados.
O presidente Macron, por sua vez, pediu “responsabilidade” a redes sociais como TikTok e Snapchat, a quem solicitou a remoção de conteúdo vinculado aos protestos e a identificação de usuários.
Governo sob pressão
O governo está sob pressão, entre a direita e a extrema-direita, que pedem uma linha dura, e os que querem medidas de apaziguamento.
Dois sindicatos da polícia, entre eles o majoritário Alliance, pediram, em um duro comunicado, o “combate” às “hordas selvagens” que protagonizam os distúrbios e alertaram o governo que “vão entrar em resistência” assim que a crise for superada.
A oposição de esquerda condenou o comunicado, que qualificou de “ameaça de sedição” e de “chamado à guerra civil”.
Sem se referir ao comunicado, o ministro do Interior pediu aos agentes para “respeitar as leis e a deontologia” e destacou que a “minoria de delinquentes [dos distúrbios] não representa a imensa maioria dos moradores dos bairros pobres”.
Em uma tentativa de apaziguar a situação, a seleção francesa de futebol, capitaneada pelo craque do PSG Kylian Mbappé, pediu em um comunicado que “o tempo da violência deve parar” e dar lugar a “maneiras pacíficas e construtivas de se expressar”.



