
Delegado preso no caso Marielle recebia propina de até R$ 300 mil para não investigar crimes
Propinas foram recebidas pelo delegado Rivaldo Barbosa para que ele obstruísse as investigações
O delegado e ex-chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, recebia “mesada” para não investigar crimes de assassinato na Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro.
A informação consta no Relatório da Polícia Federal (PF) sobre o caso de Marielle Franco, em trecho do depoimento do miliciano Orlando Curicica. As informações prestadas por Curicica constam dentro do relatório que subsidiou as três prisões, de Rivaldo e dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, no último domingo (24/03).
Conforme o relato, havia uma rotina de pagamento de propinas. Os valores variavam normalmente entre R$ 60 mil e R$ 80 mil, mas em determinados momentos teriam chegado a R$ 300 mil. As taxas adicionais eram enviadas nos casos de crimes que deixavam provas e rastros. O objetivo seria obstruir as investigações.
O relatório da PF aponta que Rivaldo foi quem teria recebido a quantia e que havia uma “tabela” na qual se definia o valor dos pagamentos de contravenção. Cada delegacia teria direito a um valor pré-determinado.
Segundo o documento da Polícia Federal, havia “diversas denúncias que dão conta da existência de um acordo entre a Delegacia de Homicídios da Capital a contravenção, para encobrir a verdadeira autoria e motivação dos crimes de homicídios vinculados à contravenção”.
A avaliação é de que a “polícia garante a impunidade e a continuidade da dinâmica criminosa” e, portanto, permanecia “inerte”.
Esposa do delegado movimentou mais de R$ 7 milhões
Segundo investigação da Polícia Federal, a advogada e empresária Erika Andrade de Almeida Araújo, esposa do ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa, preso neste domingo, é “testa de ferro” do marido nas “empresas de fachada” criadas pelo delegado para lavar o dinheiro adquirido de maneira ilícita ao longo dos anos em que esteve à frente da Delegacia de Homicídios da capital. Erika auxiliou na lavagem de dinheiro, constituindo, juntamente com marido empresas que operavam na área de consultoria: a Mais I Consultoria Empresarial LTDA e Armis Consultoria Empresarial Eireli.
Ela figura como “sacadora de valores das contas da empresa”. Segundo a PF, há evidências de que Barbosa era o administrador, de fato, das empresas e o responsável pela interlocução com clientes e apresentação do portfólio de serviços. A análise bancária mostrou que, no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2019, Erika movimentou mais de R$ 7 milhões.
No período em que esteve à frente da DH da capital, de 9 de janeiro de 2012 a 26 de outubro de 2015, e em 27 de outubro de 2015, quando assumiu a direção da Divisão de Homicídios, onde permaneceu até 5 de março de 2018, a PF afirma que Rivaldo Barbosa recebeu vantagens indevidas da contravenção para não investigar e ou não deixar investigar os homicídios praticados pelas organizações criminosas, decorrentes das disputas territoriais para exploração do “jogo do bicho”. O que fica demonstrado na declaração de bens do delegado que teve aumentado considerável de seu patrimônio, adquirindo, por exemplo, diversos imóveis.
O delegado e sua mulher começaram na iniciativa privada em 2014, quando abriram a Mais I Consultoria Empresarial. Érika Araújo, que é formada em administração e Direito, atuou como advogada na Fragata Antunes e Advogados Associados por menos de dois anos, entre 2007 e 2009. Depois, trabalhou na Prefeitura do Rio de Janeiro, entre março de 2009 e maio de 2014. Diferentemente do marido, em seu currículo não informa quaisquer experiências, cursos ou trabalhos na área de inteligência e informações.
Segundo informações fornecidas pelas instituições financeiras ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), Erika declarou ser sócia de duas empresas e trabalhar como “Inspetora de Qualidade”, possuindo uma remuneração de R$ 28.920,56. O que se observou foi, em poucos meses, um salto significativo da renda de Erika, tendo em vista que antes da constituição das empresas seu maior salário havia sido em torno de R$ 4.830,00, quando esteve vinculada à prefeitura do Rio de Janeiro.
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