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AmazonFACE: a “máquina do tempo” que levará a Amazônia para 2060

Experimento ambicioso que fará três nacos de floresta avançarem 35 anos – quando a concentração de CO2 será 50% maior do que hoje.

Você já ponderou sobre as implicações futuras das mudanças climáticas na Floresta Amazônica? O projeto AmazonFACE não só pensa, mas age de forma inovadora ao criar um cenário ambiental que simula as condições previstas para 2060.

Ao utilizar estruturas em forma de anel repletas de torres para enriquecer parte da floresta com dióxido de carbono, pesquisadores buscam respostas sobre como o aumento de CO2 afetará o ecossistema mais diversificado do planeta. Com uma abordagem prática e vigorosa, o artigo a seguir mergulha nos detalhes técnicos e na significância científica desta pesquisa ambiciosa, desvendando como esses experimentos poderão influenciar estratégias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na saúde da floresta e no equilíbrio climático global.

Prevendo o Futuro com o AmazonFACE

Imagine uma máquina do tempo não de filmes, mas da ciência real, situada na vastidão da Amazônia. A cerca de 100 km ao norte de Manaus, cientistas estão construindo um experimento revolucionário chamado AmazonFACE. Este projeto tem o objetivo ambicioso de projetar três parcelas da floresta para o ano de 2060, um período em que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera terrestre estará 50% maior do que hoje, devido à poluição humana.

Aumentando artificialmente a concentração de CO2 ao longo de dez anos, os pesquisadores buscam compreender como a floresta reagirá a uma dose elevada desse gás de efeito estufa. Afinal, uma em cada dez espécies do planeta vive na Amazônia, tornando-a o ecossistema mais diversificado do mundo. O AmazonFACE é um projeto colaborativo entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o MetOffice do Reino Unido.

A Estrutura do AmazonFACE

A estrutura central do AmazonFACE consiste em seis construções chamadas anéis. Cada anel é composto por 16 torres de 35 metros de altura, arranjadas em um círculo de 30 metros de diâmetro. Estas torres são responsáveis por liberar o ar enriquecido com CO2, criando um cenário que emula o ambiente futuro da Amazônia.

ANÉIS ALTURA DAS TORRES DIÂMETRO DO CÍRCULO
6 35 metros 30 metros

A aparência desses anéis lembra uma versão tecnológica do Stonehenge, replicada seis vezes na densa floresta amazônica. Até o momento, dois desses anéis estão concluídos, e os restantes serão finalizados até o fim do ano. Guindastes de 45 metros de altura acompanharão o experimento, permitindo a coleta de dados até das árvores mais altas.

Controle Científico

Metade dos anéis liberará ar com carbono adicional, enquanto os outros três servirão como grupo de controle, emitindo ar ambiente comum. A comparação entre os dois grupos é crucial para isolar o efeito do CO2. Sem essa comparação, seria desafiador determinar se as mudanças observadas são realmente devido ao aumento do CO2.

AmazonFace3

O Desafio dos Rios Voadores

Um aspecto fascinante da Amazônia são os chamados rios voadores, correntes de umidade que se deslocam pelo ar e influenciam o clima em outras regiões. O AmazonFACE irá investigar como o aumento do CO2 pode afetar esse fenômeno. Se as plantas transpirarem menos devido à maior disponibilidade de CO2, isso poderia reduzir a quantidade de chuva, impactando não apenas a floresta, mas também a agricultura e os ecossistemas vizinhos.

O Calor e a Seca

A floresta de 2060 não será apenas mais rica em CO2, mas também mais quente e propensa a secas devido ao acúmulo de gases de efeito estufa. O AmazonFACE, mesmo focado no CO2, também proporcionará insights sobre como esses outros fatores afetam a floresta, graças às variações climáticas naturais que ocorrerão durante o experimento.

O Futuro da Biodiversidade

Com a biodiversidade da Amazônia em jogo, o AmazonFACE desempenhará um papel fundamental na compreensão de como a floresta pode se adaptar ou resistir às mudanças climáticas. A professora Adriane Esquivel Muelbert, da Universidade de Birmingham, destaca a riqueza de espécies do AmazonFACE, com mais de trezentas em cada anel, em comparação com os ecossistemas mais simples estudados em outros experimentos FACE pelo mundo.

A Complexidade do Ecossistema

Uma das grandes complexidades do AmazonFACE é a diversidade de reações que diferentes plantas podem ter ao aumento do CO2. Para lidar com isso, os pesquisadores classificam as espécies em categorias baseadas em suas características funcionais, o que permite comparações entre os anéis, mesmo com espécies distintas.

O Papel do Fósforo

O solo amazônico é notoriamente pobre em fósforo, um nutriente essencial para a vida. As árvores podem usar o excesso de CO2 para produzir exsudatos, líquidos que atraem fungos capazes de fornecer fósforo em troca. No entanto, se o fósforo for insuficiente no ecossistema, esse intercâmbio pode não ser eficaz.

Impacto no Armazenamento de Carbono

O ideal seria que as árvores usassem o CO2 adicional para crescer e armazenar carbono na forma de madeira, mantendo-o afastado da atmosfera por séculos. No entanto, não há certeza de que isso ocorrerá. O carbono pode ser usado para formar folhas ou raízes, que retêm carbono por um tempo muito mais curto.

O AmazonFACE e o Clima Global

A pesquisa do AmazonFACE é vital para entender como a Amazônia pode influenciar o clima global. Uma floresta saudável ajuda a proteger o planeta, enquanto uma degradada libera carbono que contribui para o efeito estufa. Em 2021, a Amazônia já emitiu mais carbono do que absorveu, marcando um ponto de virada preocupante.

O AmazonFACE é uma iniciativa crítica para desenvolver estratégias de mitigação das consequências da degradação ambiental. Com dados meticulosamente coletados e analisados, os resultados do experimento ajudarão a moldar as políticas e práticas de conservação para proteger a Amazônia e, por extensão, o planeta.

Por: Redação Infoflash

 

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