
Artigo de Célia Ladeira – “Em tempos de etarismo”
* Por Célia Ladeira
No Brasil, os movimentos sociais vivem fases de ascensão e queda de acordo com acontecimentos que são mediados pela imprensa. Estes fatos são rotulados com novos vocábulos que surgem nos relatos jornalísticos e ganham ampla circulação. É o caso da palavra ‘etarismo’, que se traduz por preconceito de idade.
O termo voltou a ser usado a partir da notícia sobre um grupo de universitárias paulistas que criticaram uma colega vinte anos mais velha porque resolveu voltar à universidade. Podemos traduzir o etarismo como mais um dos muitos preconceitos que atingem os mais velhos e até os mais jovens.
O professor Luiz Artur Ferraretto, em artigo na Internet, lembra os jornalistas que têm perdido o emprego em função da idade. E pergunta: quantos profissionais com mais de 60 anos – ou até de 50 – estão em redações? Qual o seu percentual em relação aos da faixa de 20 a 25 anos, maior e dominante? E afirma: “vão dizer que foi corte de gastos, eliminando profissionais de salários mais altos. De qualquer forma, trata-se de desprezo em relação à experiência”.
No jornalismo televisivo, é flagrante a preferência por jovens, em geral moças com boa aparência e bem penteadas. Não importa se entendem ou não de economia ou de política. Nem se nunca abriram a Constituição ou algum regimento interno do Congresso. Enquanto isso, jornalistas mais idosos que ainda estão empregados são empurrados para programas tarde da noite. Com isso, o etarismo impede que a população se informe melhor, compreenda melhor as notícias e seus interesses ocultos.
Ao contrário dos noticiários da BBC inglesa, onde homens e mulheres de cabelos brancos ainda comentam as notícias, muitos programas informativos no Brasil desprezam a voz dos mais velhos.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação



