
Artigo de Célia Ladeira – “A triste rotina do trabalhador brasileiro”
* Por Célia Ladeira
Assisto a um programa de TV no Rio de Janeiro. E vejo um problema que se repete pelo Brasil afora. Seja no sul, no centro-oeste ou no nordeste, as pessoas saem de casa ainda de madrugada e vão para as filas de ônibus. De cabeça baixa, resignadas, enfrentam uma viagem de duas a quatro horas para chegar ao trabalho. Isso todos os dias, chova ou faça sol. Fico me perguntando: quem trabalha merece um transporte mais digno, um ônibus mais limpo, uma viagem menos estressante. Por que não se fornece ao menos um transporte decente para o brasileiro?
Muitas cidades já estão implantando as redes de metrô, mas o serviço é falho, serve trechos pequenos e não atende a quem precisa atravessar uma cidade para chegar a um destino. Volta-se ao ônibus e perde–se muito tempo na fila, à espera de conseguir entrar. Quem não consegue embarcar sabe que serão mais uma ou duas horas de espera. Quem embarca não costuma sentar. Faltam lugares vazios. O jeito é viajar em pé, cuidando para não cair.
Os políticos brasileiros, que chegam às suas assembleias legislativas ou câmaras dos vereadores por meio de carros com motoristas e ar condicionado, esquecem quem os elegeu e são incapazes de estudar uma maneira de organizar o transporte coletivo. Uma medida simples seria colocar mais ônibus pela manhã. Um atrás do outro. A hora do aperto é a da manhã e o da volta para casa. À tarde, os ônibus podem andar vazios que ninguém liga.
O problema só tende a aumentar. As cidades crescem, e seus entornos aumentam pela disponibilidade de moradia mais barata para muitos. Brasília, uma cidade que nasceu destinada ao automóvel, vive o mesmo problema das cidades mais antigas. Sofre com a busca de trabalho no centro da capital pelos moradores das cidades vizinhas. A cidade que nasceu há 60 e poucos anos já vive a desesperança dos trabalhadores que viajam em velhos ônibus, rezando pelo dia em que poderão chegar com dignidade ao trabalho. Sem as filas intermináveis da Rodoviária.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação



