
Artigo de Célia Ladeira – “Israel: apartheid ou crime?”
* Célia Ladeiras
As últimas incursões de tropas israelenses na faixa de Gaza tornam claras as intenções de Israel de se apossar territorialmente da Palestina. O governo de Israel insiste em que os moradores da faixa deixem suas casas e se dirijam para o sul ou para o norte deixando o campo livre para o exército de ocupação.
Essa movimentação toda reforça uma política de apartheid adotada contra o povo palestino, conforme já foi denunciado pelo grupo israelense de direitos humanos B’Tselem. O grupo publicou um documento no qual detalha várias leis e políticas implementadas pelo governo israelense que visam promover a supremacia judaica em relação aos palestinos.
O que é apartheid
Adotado na África do Sul, quando a população negra teve restringidos os direitos elementares de ir e vir, a palavra passou a designar as diferenças de cidadania e de costumes entre negros e brancos. As normas foram implantadas pelos dirigentes europeus, que impediam o uso de lugares públicos por parte da população negra, além de outras restrições.
Em Israel, conforme a denúncia da Sociedade de Direitos Humanos B‘Tselem, o governo impõe aos cidadãos palestinos muitas normas e restrições de ir e vir, tratando-os como cidadãos de segunda classe. A Sociedade B‘Tselem publicou um documento que detalha como os direitos fundamentais dos palestinos sempre foram restringidos por Israel.
Alguns exemplos: os judeus podem, ou melhor, podiam, ir a qualquer lugar nas regiões controladas por Israel, ao contrário de palestinos que, vivendo numa cidade, precisavam de autorização da polícia de Israel para ir a uma outra cidade de Gaza. Outra tarefa difícil era atravessar o enorme muro de mais de 5 metros que divide Gaza do território israelense.
. Os palestinos, sejam cidadãos de Israel ou não, também não têm direitos políticos. Embora os “árabes israelitas”, que constituem cerca de 20 por cento da população israelita, possam ou podiam participar nas eleições, são tratados como párias sociais pelos grupos políticos dominantes não palestinos.
Se, em tempos de paz a vida já era difícil para um morador de Gaza, imagine em tempos de guerra. As restrições são imensas: falta de água, de alimento, de remédios, de gasolina, cortes de eletricidade. Um mês de guerra “contra o Hamas”, conforme afirmam os documentos de Israel, já causou mais de dez mil mortes de palestinos, incluindo milhares de crianças. Já não se pode chamar de apartheid. É crime de guerra mesmo.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação



