
Artigo de Célia Ladeira – “5 de outubro, uma data para lembrar”
* Por Célia Ladeira
Dia 5 de outubro de 1988. As mãos trêmulas do deputado Ulisses Guimarães seguravam o primeiro volume da nova Constituição brasileira. Em pé, na mesa da presidência no plenário da Câmara dos Deputados, Ulisses Guimarães saudava o nosso novo marco legal, a Constituição Cidadã.
Uma obra que nasceu de grupos variados de brasileiros, ocupando as tribunas, fazendo marchas pela esplanada, gritando ou silenciando nos plenários das comissões. Pode-se dizer que muitas mãos ajudaram na construção da nova Constituição.
Eu estava lá também. À frente do Diário da Constituinte, nossa tarefa foi registrar todos os dias de discussão de cada capítulo, de cada artigo. Não foi fácil. Pela primeira vez, um noticiário legislativo era televisionado. Não havia então nem TV Câmara e nem TV-Senado. Com equipamentos alugados à Universidade de Brasília, nosso pequeno grupo de 5 pessoas dava conta da gravação dos debates, das votações em plenário, e o resultado ia diariamente ao ar pelas redes de televisão do país, com as bênçãos do doutor Ulisses.
Graças ao pulso firme de Ulisses Guimarães, pudemos registrar todos os debates. As opiniões divergiam. As discussões eram acaloradas e, pelo jeito, era uma prática que sobrevive até hoje. As salas onde nossa redação funcionava eram invadidas por grupos adversários, mas doutor Ulisses nos protegia. Pudemos noticiar as divergências, as posições em desacordo, os grupos mais exaltados, os prós e contras de cada capítulo da nossa Carta.
O resultado abriu um enorme espaço para a construção de uma Constituição realmente cidadã, Inclusiva de direitos de cidadanias até então desrespeitadas. Abrindo espaço para novas emendas, a Constituição de 88 cumpre seu papel legal, e nos lembra sempre seus princípios fundamentais, no título inicial, garantindo os direitos de soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, o pluralismo político. E em parágrafo único afirma: todo o poder emana do povo. Em 35 anos tem sido a lei. Que continue por muito tempo mais.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação



