Artigo de Célia Ladeira – “A Brasília sonhada”

* Por Célia Ladeira

Vivi parte do entusiasmo que envolveu Juscelino Kubitschek e sua equipe. Vim para Brasília em 1970, dez anos depois de sua inauguração. Aqui encontrei ainda os construtores e pude ouvir do arquiteto Oscar Niemeyer uma frase que ficou na história: “meu trabalho não tem importância, nem a arquitetura tem importância para mim. Para mim o importante é a vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade, pensar num mundo melhor, o resto é conversa fiada”.

O idealizador da capital, junto com o traço firme de Lúcio Costa, fez surgir a cidade que mereceu o título de patrimônio cultural da humanidade. Ao lado de Oscar Niemeyer, o presidente do Brasil Juscelino Kubitschek, criava sua meta de governo: “cinquenta anos em cinco”. Numa época de petróleo barato, o Plano de Metas fez a opção pelo transporte rodoviário. Foram construídos 20 mil quilômetros de estradas de rodagem e a produção de petróleo saltou de dois milhões de barris em 1955, para trinta milhões em 1960. A produção de aço que era de 1 milhão e 150 mil toneladas, chegou a 2 milhões e 500 mil toneladas em 1960.

O mapa do Brasil se transformava, apontando para o norte. Enquanto atraia nordestinos para se juntarem aos candangos da capital, a cidade foi nascendo. A W-3 se tornou a moradia dos funcionários públicos que se mudavam para a nova capital, o Núcleo Bandeirante ganhou casas que estão lá até hoje, o lago começou a encher com o trabalho de caminhoneiros que traziam a água de lugares distantes. Lúcio Costa não perdeu tempo e fez seu mapa reproduzindo um avião e suas asas para criar o Plano Piloto, com prédios cercados de jardins e intercalados pelo pequeno comércio das quadras.

E a população foi aumentando. Como uma flor do cerrado, Brasília abriu os braços para mineiros, paulistas, nordestinos, goianos. E hoje, seus moradores se espantam porque a cidade se tornou a terceira maior do Brasil. Como moradora há mais de 50 anos percebo que este devia ser mesmo o sonho de JK. Como disse Niemeyer, “se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito”. Niemeyer esperava o crescimento da cidade e contava com a população para proteger a Brasília sonhada.

* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação

Foto: Getty Images

 

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