
Artigo de Célia Ladeira – “A paz é possível”
* Por Célia Ladeira
Sem dúvida a melhor cobertura de uma guerra que já dura mais de 50 anos é a do jornalista norte-americano Joe Sacco, um jornalista-quadrinista, enviado no final dos anos 90 pela revista Time à cidade de Hebron, na Cisjordânia, onde judeus e palestinos, dois povos que se odeiam desde sempre, vivem colados. Viviam, quando o quadrinista passou um tempo lá. O resultado da viagem foi apresentado no livro Reportagens, e vale a pena ver como texto e desenhos se completam na captação de uma realidade hostil.
As Forças de Defesa de Israel impõem toque de recolher aos moradores palestinos. Num dos desenhos, a moradora Sabbah Abu procura objetos entre os escombros de sua casa num campo de refugiados. As casas no campo de refugiados Khan Younis se amontoam umas sobre outras.
Desenhos se sucedem mostrando militares israelenses derrubando casas em Gaza, sob o pretexto de que estão vazias. Postos militares judeus controlam entradas e saídas das cidades. Muitos túneis construídos pelos palestinos para a busca de alimentos são fechados e lacrados.
O livro de Joe Sacco, publicado no Brasil em 2016, mostra uma realidade que não mudou. O avanço dos assentamentos judeus sobre territórios palestinos é uma realidade que os israelenses não conseguem negar. Mesmo com os últimos acontecimentos, provocados pelo Hamas, a resposta israelense é brutal, bloqueando a população civil de acesso a água, luz e alimentos, um crime de guerra segundo a ONU.
A melhor ajuda que se pode dar, neste momento do conflito, é a de trabalhar pela paz definitiva, por difícil que seja. Em vez de contribuir com bombas, drones, armas de guerra, criar mecanismos de construir a paz, dos dois lados. Muita conversa, muito mapa na mesa, podem abrir caminho para a paz entre os dois povos. Em nome do futuro da humanidade.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação



