* Por Célia Ladeira
Depois de passar três anos sem reuniões, devido à pandemia de Covid 19, os partidos políticos de esquerda da América Latina, reunidos no grupo Foro de São Paulo, voltam a se reunir nesta quinta-feira, 29 de junho. Desta vez o encontro será em Brasília e contará com a presença do presidente brasileiro Luiz Inácio da Silva. O tema em discussão será a “Integração Regional Para Avançar a Soberania Latino-americana e Caribenha”.
O grupo, composto por diversos partidos comunistas da América do Sul e da América Central, teve o primeiro encontro numa reunião ocorrida de 1º a 4 de julho de 1990, organizada pelo Partido dos Trabalhadores, no extinto Hotel Danúbio, na cidade de São Paulo, quando reuniu partidos de 14 países latino-americanos e caribenhos. O encontro contou com a presença de Fidel Castro e Hugo Chávez. Essas organizações reuniram-se visando debater a nova conjuntura internacional pós-queda do Muro de Berlim, em 1989, e elaborar estratégias políticas. O grupo passou a ser conhecido como o foro de São Paulo.
Discutir a soberania de Cuba, diante de avanços do governo norte-americano que impôs restrições econômicas ao país caribenho, tem sido a pauta principal do foro. No segundo encontro do grupo, realizado na Cidade do México, em 1991, com a participação de 68 organizações e partidos políticos de 22 países, examinou-se a situação e a perspectiva da América Latina e do Caribe frente à reestruturação hegemônica internacional. Dois anos depois, em Havana (Cuba), contava com a participação de 30 países e um aumento no número de participantes.
Apesar da presença de vários partidos, a ação política do grupo tem se limitado a discutir os problemas locais de cada país. Foi o caso quando as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foram excluídas do Foro a partir de 2002, após abandonarem as negociações para um acordo de paz na Colômbia e enveredarem pelo caminho dos sequestros e do narcotráfico. O grupo tentou participar de duas reuniões subsequentes (em 2004 e 2008), porém não obteve sucesso. No ano de 2008 sua presença foi barrada pelo PT, que ocupava a secretaria-executiva da entidade.
Agora, em Brasília, não será muito diferente. Vão discutir as trocas de poder em países como o Equador e o Peru, os erros de Daniel Ortega, as dificuldades econômicas de todos e a possibilidade de criação de uma moeda continental que substitua o dólar. A situação dos refugiados da Venezuela não será discutida. Muito menos a fome e a miséria que afligem vários países.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação
