Artigo de Célia Ladeira – “Enfrentando Poseidon, o deus dos mares”

* Por Célia Ladeira

O recente desastre da nave oceanográfica com 5 viajantes em busca do fundo do mar mostrou que enfrentar o deus dos mares e oceanos, o grego Poseidon, é tarefa penosa, quase impossível. Também conhecido como Netuno, na mitologia romana, Poseidon mostra o controle que exerce em seus domínios, e impede aventuras tanto de milionários norte-americanos quanto de pobres africanos que ousam atravessar suas águas.

Quem primeiro enfrentou o deus irado foi Homero, na sua Odisseia, onde conta a saga de um soldado grego que lutou na Guerra de Tróia e tentava voltar para casa, sendo impedido por Poseidon. O retorno acabou levando dez anos e só se concretizou com a ajuda de um outro deus, Zeus, mais magnânimo.

Os relatos dos navegadores portugueses e espanhóis na época dos descobrimentos confirmam a fúria de Poseidon e as tempestades que soprou sobre as naus dos descobridores, que acabavam afundando nas águas do Oceano Atlântico.

Poseidon era adorado principalmente pelos pescadores e viajantes, que pediam proteção no mar. Os navegantes suplicavam por águas calmas e sem tempestades. No entanto, Poseidon era conhecido por sua inconstância e instabilidade. Quando o deus dos mares estava irritado, descontava sua ira criando enormes tempestades marítimas, terremotos, tsunamis e outras catástrofes.

Mais recentemente, temos relatos e imagens de barcos com centenas de pessoas que tentam chegar à Europa fugindo de guerras e destruições em países africanos. Muitos infelizmente ficam pelo caminho.

O Mar Mediterrâneo também tem seus dias de fúria marítima. A mais recente odisseia foi a do grupo de cinco aventureiros que queriam chegar à carcaça do Titanic, o navio que afundou em 1912, causando a morte de milhares de pessoas. O frágil submergível, dirigido por um brinquedo, se partiu pela força das águas. Para Poseidon não existe diferença entre ricos e pobres.

As profundidades marítimas são um empecilho para quem ousa chegar ao fundo do mar. Todos pagam um preço alto pela aventura e poucos sobrevivem. Por que o ser humano, que já chega aos satélites e planetas da galáxia, não consegue vencer os obstáculos para observar as profundezas dos oceanos?

Como Poseidon é filho do deus Cronos, o deus dos tempos, teremos que pedir a este deus que acelere o nosso conhecimento sobre os oceanos.

* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação

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