Artigo de Célia Ladeira – “Guerra da Ucrânia: quem quer a paz?”

* Por Célia Ladeira

Na sua entrevista coletiva em Lisboa, no último sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em tom melancólico, que “ninguém está querendo a paz”. Uma análise das notícias dos últimos dias sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia confirma a afirmação de Lula. Senão vejamos:

A ajuda norte-americana à Ucrânia, conforme divulgado no dia 4 de abril de 2023, chega a R$ 178,5 bilhões desde a invasão russa. Os Estados Unidos divulgaram o detalhamento de como serão distribuídos os US$ 2,6 bilhões (R$ 13,2 bilhões) em uma nova ajuda militar para a guerra da Ucrânia contra as forças invasoras russas.

Ainda em abril:

Os Estados Unidos e Europa se comprometem a entregar mais armas à Ucrânia. O anúncio foi feito na véspera de uma reunião crucial entre Kiev e seus aliados na guerra contra a Rússia, A entrega é de blindados e de munição. O Pentágono apresentou uma lista de US$ 2,5 bilhões em suprimentos, incluindo veículos de combate de infantaria Bradley, uma grande quantidade de blindados para transporte de pessoal e sistemas de defesa aérea Avenger, bem como munições.

Por sua vez, o Reino Unido anunciou que enviará 600 mísseis Brimstone; a Dinamarca ofereceu 19 howitzers Caesar de fabricação francesa e a Suécia prometeu seu sistema de artilharia Archer.

E no dia 17 de abril último, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky anunciou que o país recebeu a primeira parcela de 3 bilhões de euros (3,25 bilhões de dólares) de um total de 18 bilhões previstos pela União Europeia para 2023. Segundo o Center for Economic Strategy ucraniano, a quantia total de auxílio dos países ocidentais pode chegar aos 100 bilhões de dólares em 2023, dos quais 40 bilhões de dólares são apenas para as forças armadas. Com tantas armas, dólares e euros jorrando em território ucraniano, quem quer sentar-se numa mesa para discutir detalhes de uma paz duradoura?

Mas a guerra tem seu preço, nos milhões de ucranianos que já morreram, fora os outros milhões que conseguiram se refugiar na Polônia, onde vivem em barracas de lona sonhando com o dia em que voltarão ao seu país. As restrições políticas e comerciais impostas à Rússia é outro preço amargo que não entra na conta geral.

* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação

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