* Por Célia Ladeira
Leio no site Olhos de Ver a notícia de um memorial construído em Botafogo, no Rio de Janeiro, para lembrar os mortos do Holocausto na Segunda Guerra Mundial. E penso em quantos memoriais seriam necessários para lembrar muitos outros mortos nas guerras que se seguiram. Hoje, lembro uma guerra que aconteceu há 20 anos, a guerra do Iraque.
Foi mais uma invasão do que uma guerra. Em resposta ao ataque do Onze de Setembro em Nova Iorque, em 2001, o governo do presidente George W. Bush decidiu invadir o Iraque, em março de 2003. As acusações para justificar a invasão foram as de que o governo do Iraque tinha um verdadeiro arsenal de armas atômicas. Depois de um ultimato feito através da televisão pelo presidente norte-americano, forças militares dos Estados Unidos e do Reino Unido, com apoio de tropas italianas, espanholas e australianas, iniciaram a Guerra do Iraque com um principal objetivo declarado: tomar e destruir as armas de destruição em massa do regime de Saddam Hussein.
As armas não foram encontradas, mas o número de mortos entre civis e militares iraquianos subiu para centenas de milhares. Monumentos históricos foram destruídos, estátuas quebradas, prédios derrubados e, no final, as dúvidas do povo norte-americano sobre as armas nucleares se transformaram em certeza: o arsenal nuclear não existia. O presidente iraquiano, que governava com mão de ferro o país há 20 anos, foi caçado em todo o território iraquiano e encontrado numa província, escondido em um buraco. Preso, foi enforcado.
Qual foi o saldo desta guerra? O surgimento de movimentos extremistas, como o Estado Islâmico, com as escaramuças e assassinatos de prisioneiros ocidentais. Já a sociedade civil iraquiana fugiu em parte para o Líbano e para outros países árabes. A guerra civil se instalou no Iraque e muitos jihadistas formaram grupos de matança em massa de iraquianos. Até hoje o país vive numa guerra civil.
Para os norte-americanos, o saldo foi a permanente desconfiança de guerras e invasões de países distantes. Quem acredita nos governos dos Estados Unidos? Quem quer ver seus filhos mortos em escaramuças sem nenhum pretexto? Republicanos e democratas pensam do mesmo jeito.
Não há memoriais para os mortos da guerra do Iraque. Há apenas a esperança de que tais erros não se repitam.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação
