
Artigo de Célia Ladeira – “Um dia para pensar”
* Por Célia Ladeira
Terça feira de carnaval de 2024. Um dia em que as conjunturas históricas nos fazem pensar. Pensar num dia 13 de fevereiro de 1924, em que, cem anos atrás, morria o maior pensador político russo, Vladimir Lenin. Um dia em que, no Rio de Janeiro, as memórias da escravidão foram lembradas no desfile das escolas de samba, especialmente pela Portela e pela Mangueira. Um dia para pensar e talvez para sonhar. “É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, observando com atenção a vida real”, ensinava Lenin.
E de que conjunturas históricas estamos lembrando? O sonho de uma revolução baseada em ideais socialistas, de união de trabalhadores de todas as classes? Ou o sonho de libertação de milhões de pessoas unidas na maior prisão de todos os tempos, a escravidão?
Sonhos que não se realizaram da noite para o dia. Sonhos que deixaram marcas escritas na pele mesmo, na cor da pele, como o samba da Portela lembra. Se o ideal de liberdade da classe trabalhadora se converte em pequenas vitórias salariais ou técnicas, sem ilusões, o ideal de libertação dos escravos está sendo conquistado com muito sangue, desilusões, castigos físicos, mortes, nenhum lugar ao sol.
As dívidas não foram pagas e, até hoje, no Brasil, o peso dos grilhões continua a forçar as resistências. Sem falar nos países africanos, onde controles poderosos impedem o surgimento de novas práticas sociais, mais justas, mais humanas. É terrível quando se olha a realidade, tão longe dos sonhos centenários.
A lição de Lenin, olhar para a vida real, nos mostra que há muito o que mudar no planeta terra. A começar pelo direito a vida. Em que uma cor de pele determina o respeito ou a dignidade de tratamento. Se quisermos sobreviver aos anos que estão por vir, se quisermos ver alguma possibilidade de futuro, temos mais que sonhar. Temos que mudar o olhar, começando por respeitar cada ser humano ao nosso lado.
Não dividir as pessoas por classes, cor de pele, pobres ou ricos, dominadores ou dominados. Lançadores de drones, bombas, foguetes ou bombas atômicas. Abolir os sonhos de grandeza, de domínio de outros seres humanos. Começar a pagar a dívida que todos temos, com os trabalhadores, com os escravos, com os palestinos, com os moradores de rua, com todos os povos.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação



