
Artigo de Célia Ladeira – “Yemen, uma guerra esquecida”
* Por Célia Ladeira
O chamado fim da guerra fria, comemorado com a queda do Muro de Berlim, em 1989, não representou a paz para todo o planeta. Muitos países ficaram esquecidos. Outros enfrentaram combates entre grupos armados, como na Síria, no Afeganistão e no Iraque. Foram guerras que contaram com a participação da Otan e do governo dos Estados Unidos, apoiando um dos lados. Um país onde o conflito não terminou é o Yemen, que enfrenta uma guerra civil desde 2014.
Centenas de milhares de pessoas já foram mortas e milhões de seres humanos enfrentam a fome e a miséria em consequência de anos de guerra entre o grupo dominante sunita, apoiado pelos países ocidentais, e o grupo xiita, que conta com o apoio do Irã. No meio do conflito surgem os interesses petrolíferos de cada lado, e a posse de terras no estreito de Bab-al-Mandab, localizado entre o Mar Vermelho e o Golfo de Áden, uma rota usada por navios petroleiros.
A divergência entre sunitas e xiitas começou há muitos séculos, quando os xiitas defenderam a posse no poder de um genro do profeta Maomé. Os sunitas são tradicionalistas e mantêm no poder os representantes dos califas. Adotam governos autoritários e impõem normas religiosas rígidas. Além disso, têm o apoio dos Estados Unidos, da Arábia Saudita e da Turquia, entre outros. Os xiitas são apoiados pelo Irã e aderiram ao movimento da Primavera Árabe, que tentou instaurar regimes mais democráticos naquele canto do planeta.
Neste quadro de litígio permanente surge agora uma esperança de construção de uma paz mais duradoura. As conversações de paz estão previstas para os próximos meses. O otimismo está derrubando muros de uma guerra de ódio entre as facções. Será que veremos em 2023 o fim da guerra do Yemen? Com o apoio do Irã, os dois lados aceitam conversar.
Mas a urgência é grande para milhões de iemenitas que deixaram suas casas em Hudaydah e vivem hoje em campos de refugiados mais ao sul, perto de Áden. As Nações Unidas tentam fornecer a ajuda humanitária para pessoas que não têm o que comer e nem recebem tratamento médico. Esta é uma catástrofe que não chega a comover os governantes de países, árabes ou não, que lucram com o petróleo do Yemen.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação



