* Por Célia Ladeira
A resposta me chegou pela jornalista Ana Castro, ela mesma baiana e muito trabalhadora. Ana cita a tese de doutorado da professora Elisete Zanlorenzi da PUC de Campinas, que desmontou a afirmação caluniosa a partir de várias pesquisas históricas. Segundo a professora de Antropologia, a chamada preguiça baiana nada mais é do que uma faceta do racismo.
Em seu estudo a professora Elisete examinou e coletou informações em bibliotecas, jornais e documentos do tempo da escravidão. E conseguiu provar que a fama de preguiçoso dada ao povo baiano derivou do racismo contra negros e mestiços que são cerca de 79 por cento da população da Bahia.
O estudo mostra que o discurso racista se difundiu na sociedade baiana a partir de colonizadores portugueses que usaram o preconceito para justificar o uso da chibata e obrigar os escravos a trabalharem nas fazendas da época. O racismo contra os baianos se espalhou pelo sul e pelo sudeste do país e terminou por atingir outros nordestinos a partir das migrações. A cor da pele se tornou um adjetivo para denegrir a capacidade de produção do trabalhador negro.
A pesquisa levou quatro anos para terminar e foi defendida e aprovada na USP. Entre outros aspectos a tese provou que o trabalhador baiano não vive em clima de “festa eterna”, mas pega no pesado especialmente em época de festas regionais. “Quem se diverte é o turista”, diz a antropóloga.
* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação
