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ARTIGO – “Manés ou foliões”, por Célia Ladeira

*  Por Célia Ladeira
Como classificar as multidões que saem às ruas brasileiras durante o carnaval? Serão manés? A palavra foi utilizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Alberto Barroso para classificar os que votaram e perderam nas eleições presidenciais. Foi uma palavra infeliz utilizada pelo ministro ao responder a um questionamento de rua.

A frase “perdeu, Mané. Não amola” mostrou seu impacto ao ter sido escrita com tinta nas paredes de vidros do STF. Doeu fundo em muitos dos que estavam nas manifestações do dia 8 de janeiro. Foi como uma flecha no peito, envenenada de desprezo.

Palavras não são somente palavras. Elas provocam efeitos porque são carregadas de significados que batem fundo nas mentes e corações das pessoas a que são destinadas.

Quem é “mané”? Primeiro, foi uma representação infeliz do povo brasileiro. Por que o povo é mané? Por que insiste em votar, em cumprir com suas obrigações de cidadão, pagando impostos, tentando sobreviver aos aumentos de preço, arcando com o custo de uma inflação que não para?

E quem é o autor da frase infeliz? Um cidadão comum ou um ministro que ganhou um cargo ad eternum no STF por ter prestado um serviço político, libertando um criminoso italiano protegido pelo governo brasileiro na época?

No carnaval, muitos manés estão nas ruas, apagando as dores do ódio. São simples foliões mas que, acima de tudo, são pessoas que amam suas heranças raciais, seus deuses e símbolos, seus significados profundos. São brasileiros que sonham com a pátria amada, que esperam dias melhores e que expressam seu amor com alegria, dançando e sambando.

Pessoas que só querem ser respeitadas.

*  Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação

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