
Asteroide que representa um perigo potencial para a Terra pode ser um fragmento de uma cratera lunar.
A rocha espacial, também conhecida como 2016 HO3, é um tipo raro de asteroide que orbita o Sol e fica muito próximo à Terra.
Um asteroide estranho viajando perto da Terra pode ter se originado da Lua, mas ainda não está claro como ele acabou vagando pelo Sistema Solar.
No entanto, os pesquisadores fizeram uma descoberta importante que ajuda a resolver esse quebra-cabeça cósmico.
O asteroide 2016 HO3 é uma rocha espacial rara que orbita o Sol, mas tem uma órbita próxima à da Terra. É um fenômeno fascinante e pouco comum de se observar.
Em 2016, o telescópio Pan-STARRS, ou Sistema de Resposta Rápida e Telescópio de Pesquisa Panorâmica do Havaí, revelou a existência do asteroide Kamo’alewa. Este nome havaiano se refere a uma antiga canção sobre uma prole que viaja sozinha, escolhido pelos cientistas como um tributo à jornada solitária deste objeto celeste.

A maioria dos asteroides que se aproximam da Terra são originados do cinturão principal, localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter. No entanto, novas pesquisas indicam que o asteroide Kamo’oalewa provavelmente veio da cratera Giordano Bruno, localizada no lado escuro da lua, ou seja, o lado que não pode ser visto da Terra. Essa descoberta foi publicada em um estudo na revista Nature Astronomy em 19 de abril.
Uma equipe de astrônomos rastreou com sucesso um asteroide potencialmente perigoso que passou perto da Terra até uma cratera lunar. De acordo com o autor principal do estudo, Yifei Jiao, estudante de doutorado na Universidade Tsinghua em Pequim e visitante acadêmico no Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona, este é um feito inédito na história da astronomia.
“Foi uma surpresa para muitos, e houve até aqueles que duvidaram que poderia ter vindo da lua”, revelou Erik Asphaug, coautor do estudo e professor no laboratório da Universidade do Arizona. “Durante 50 anos, estudamos rochas coletadas pelos astronautas na superfície da Lua, bem como centenas de pequenos meteoritos lunares que foram aleatoriamente expelidos por impactos de asteroides em toda a lua e acabaram caindo na Terra. Kamo’ oalewa é uma descoberta revolucionária que conecta esses dois aspectos.”
Além de confirmar a possibilidade da relação entre Kamo’ oalewa e a lua, essas descobertas também podem levar à novas revelações, como a origem dos ingredientes necessários para a vida na Terra.
E a cratera se foi
Com um diâmetro de 46 a 58 metros, Kamo’oalewa é cerca da metade do tamanho da London Eye. Este asteroide orbita a Terra a uma distância de aproximadamente 14,5 milhões de quilômetros, o que o torna potencialmente perigoso. Astrônomos acompanham e estudam este objeto para obter mais informações sobre ele e prevenir quaisquer riscos em caso de aproximação com o nosso planeta.
Estudos anteriores se concentraram na reflexividade do asteroide, que é semelhante aos materiais lunares e difere dos típicos asteroides próximos da Terra. Outra característica importante é a baixa velocidade orbital em relação à Terra, sugerindo que o objeto pode ter vindo de uma região próxima.
Em uma nova pesquisa, os astrônomos utilizaram simulações para determinar quais das milhares de crateras da lua poderiam ter sido o ponto de origem do asteroide.
A equipe usou modelagem para determinar que o impactador responsável pela criação do asteroide deveria ter pelo menos 1 km de diâmetro para deslocar um fragmento tão grande. Ao atingir a Lua, é provável que o objeto tenha desenterrado Kamo’oalewa da superfície lunar, enviando-a voando e formando uma cratera com cerca de 10 a quase 20 quilômetros de diâmetro.
As simulações também foram úteis para a equipe encontrar uma cratera que parece ser relativamente jovem em comparação com a idade estimada do asteroide, de poucos milhões de anos, enquanto acredita-se que a Lua tenha 4,5 bilhões de anos.
O que pode acontecer com o impacto
Através de simulações, foi possível determinar que Kamo’oalewa foi formada quando um objeto colidiu com a superfície lunar em uma velocidade de vários quilômetros por segundo.
Como explicou Asphaug, seria de se esperar que o evento de impacto espalhasse o material lunar por toda parte. No entanto, ele ainda está lá. Então, em vez de focar no problema, a questão é: como podemos reproduzir esse efeito?
A equipe acredita que o evento de impacto lançou dezenas ou centenas de fragmentos de 10 metros para o espaço, com base em seus modelos. Surpreendentemente, Kamo’oalewa foi um dos poucos fragmentos grandes e isolados que sobreviveram.
“Embora a maioria desses fragmentos deva ter caído na Terra como meteoritos lunares em menos de um milhão de anos, alguns objetos podem ser mais sortudos e entrar em órbitas focadas no Sol, ainda não descobertas ou identificadas,” explicou Jiao.
A Lua é um pedaço enorme do nosso sistema solar e a questão de como ele permaneceu intacto por tanto tempo tem intrigado os cientistas. Esta pesquisa pode ter implicações para a teoria da panspermia, que sugere que compostos essenciais para a vida foram entregues à Terra através de rochas espaciais como asteroides, cometas ou outros planetas. Entender este fenômeno pode fornecer insights valiosos para os estudiosos desta teoria fascinante.
“Ao considerar o planeta de origem de Kamo’oalewa, que é desprovido de vida, podemos ter uma ideia de como rochas lançadas por Marte podem conter formas de vida – pelo menos em teoria”, explica Asphaug.
Além de ser fascinante, o estudo dos impactos de crateras na Lua também é importante para aprimorar nossa compreensão dos efeitos dos impactos de asteroides em nosso planeta. Essas informações podem ser valiosas caso surja uma ameaça semelhante no futuro.
A exploração do novo modelo de origem de Kamo’oalewa a partir de uma cratera lunar jovem e específica é um importante passo para obter conhecimento sobre os danos que impactos de asteroides podem causar em corpos planetários. De acordo com Renu Malhotra, coautora do estudo e professora de ciências planetárias na Universidade do Arizona, essa pesquisa pode trazer revelações valiosas sobre a verdadeira natureza da Terra.
“Será diferente de todas as outras amostras que temos até agora – uma peça fundamental que nos ajudará a resolver o enigma”, afirmou Asphaug.
A análise de uma amostra escavada do lado distante da Lua pode fornecer informações valiosas sobre uma região pouco explorada e revelar a composição de sua subsuperfície. Como o impacto ocorreu há relativamente pouco tempo em escalas astronômicas, as amostras também podem ajudar os cientistas a entender como a radiação espacial afeta asteroides ao longo do tempo, causando intemperismo e erosão.
O coautor do estudo, Dr. Patrick Michel, um astrofísico e diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, enfatiza a importância das missões espaciais em visitar asteroides e trazer amostras para análises. Segundo ele, essas missões frequentemente trazem resultados surpreendentes e inesperados que superam as expectativas. Ele também expressa sua empolgação com o próximo retorno do Tianwen-2, que certamente será uma fonte valiosa de novas informações sobre asteroides.
Por um longo tempo, acreditava-se que os meteoritos não podiam vir da lua. Mas quando foram encontrados meteoritos lunares na Terra, essa teoria foi derrubada. Noah Petro, cientista da Nasa envolvido nos projetos da Lunar Reconnaissance Orbiter e Artemis III, comentou sobre essa descoberta.
Espera-se que amostras futuras confirmem a origem lunar de Kamo’oalewa.
Petro enfatizou que, ao explorar o espaço, descobrimos coisas fascinantes e emocionantes sobre o nosso Sistema Solar. Nossa Lua é um excelente exemplo disso. É única em comparação com as outras luas de planetas em nosso sistema solar. Cada vez que investigamos mais, somos lembrados da singularidade do nosso planeta e de como somos sortudos por viver aqui no sistema Terra-Lua.
Por: Redação Infoflash
O Orbitador de Reconhecimento Lunar da Nasa capturou uma imagem da cratera Giordano Bruno no lado distante da Lua, mostrando a altura e a nitidez da borda, bem como colinas ao longo do chão da cratera – NASA/Goddard/Arizona State University



