
“Fantástico” mostra como aplicativo Discord envolve adolescentes em um submundo de violência
O programa “Fantástico”, da TV Globo, exibiu na noite deste domingo (30/04) extensa reportagem sobre o Discord, um popular aplicativo de mensagens que estaria expondo menores de idade a conteúdos perturbadores. De acordo com o programa, o aplicativo estaria permitindo que jovens tenham acesso a vídeos e conversas que incentivam a automutilação, crueldade contra animais, pedofilia, tortura, entre outras aberrações. E os conteúdos seriam exibidos ao vivo, a partir de desafios criados por criminosos.
Os repórteres do Fantástico foram procurados por ativistas que acompanham redes sociais para identificar e denunciar crimes. Em comunidades no aplicativo Discord, eles observaram e gravaram horas de material violento. O aplicativo permite que as pessoas se comuniquem em transmissões ao vivo de vídeos dentro da plataforma. Tudo pode acontecer, e a menos que alguém grave, fora da plataforma, nada fica registrado.
Fotos e vídeos de pessoas ferindo o próprio corpo com lâminas foi um dos materiais recebidos pela equipe do programa. No Brasil, o incentivo à automutilação é crime, mas estaria sendo disseminado no aplicativo Discord. Em tempo real, criminosos desafiam alguém a praticar violência contra si ou contra animais, uma forma de “divertimento cruel”.
Em setembro de 2022, na Região Metropolitana de São Paulo, uma garota de 13 anos, usando uma máscara de caveira, tenta sufocar um gato da vizinhança e colocar uma faca dentro dele. O caso foi denunciado a uma veterinária e ativista pelos direitos dos animais.
“Ela colocou fogo em um pedaço de papel e ateou no gatinho”, conta Daniela Souza, veterinária.
A casa toda pegou fogo. A própria garota registrou a presença dos Bombeiros, e, em uma postagem, disse: “Botei fogo na casa. Daora”. Dezesseis mil pessoas faziam parte da comunidade onde a cena foi transmitida.
Em outro vídeo, com uma lâmina, outra jovem escreve o nome do servidor. Durante essas interações – que se tornam sessões de tortura psicológica -, os agressores se sentem protegidos pelo anonimato e se tornam cada vez mais cruéis.
A reportagem do Fantástico questionou especialistas para entender o leva pessoas tão jovens a cometer atos tão violentos.
“A partir da variável da entrada do smartphone, a gente já tem pesquisas que mostram que esses aparelhos afetaram a adolescência. Como se você pegasse e falasse para as crianças: ‘Olha, descobrimos o fogo. Brinca aí com o fogo’. O fogo é maravilhoso, mas você tem que ensinar como é que mexe nisso para não se queimar. A gente deu o fogo na mão das crianças e estamos vendo os resultados”, destacou Vera Iaconelli, psicanalista entrevistada pelo “Fantástico”.
O crescimento da violência também é percebido pela Safernet, associação civil que recebe denúncias de violações aos direitos humanos na internet no Brasil.
“A gente tem visto uma escalada, não só do número de denúncias de violência, de conteúdo extremista na internet, mas também uma escalada do nível de crueldade e sadismo, muitas vezes, desse conteúdo. A fiscalização ou digamos o controle disso é muito precário”, disse Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil.
Nos Estados Unidos, o Discord já vem sendo questionado na Justiça. A plataforma está sendo processada, junto com outros aplicativos, pela família de uma menina que, aos 11 anos, foi vítima de exploração sexual nas redes e tentou se suicidar. O escritório que a representa defende vítimas de crimes nas redes sociais.
Em nota ao Fantástico, a empresa dona do Discord disse: “Estamos colaborando ativamente com o governo e agências de aplicação da lei no Brasil e nos Estados Unidos, enquanto trabalhamos para o objetivo comum de prevenir danos”.
Com informações do site G1



