Lideranças criticam questões aplicadas na prova do Enem que abordaram o agro

O setor agropecuário reagiu contra duas questões aplicadas na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizada no último domingo (05/11). Lideranças disseram que o conteúdo era “ideologizado” e tinha “desinformação” contra os produtores rurais do país.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) quer que as perguntas sejam anuladas e vai articular a aprovação de um requerimento de convocação ao ministro da Educação, Camilo Santana, para explicar o assunto no Congresso Nacional.

O enunciado de uma das questões do Enem dizia que o conhecimento local do Cerrado está cada vez mais “subordinado à lógica do agronegócio” e que os bens naturais e de uso comum no bioma, como terra, água e sementes, têm se tornado “propriedade privada”.

O texto afirmava ainda que há fatores negativos nessa relação, como “a mecanização pesada, a ‘pragatização’ dos seres humanos e não humanos, a violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”.

A outra questão falou sobre a pressão pelas terras da Amazônia e vincula o aumento do desmatamento na região à expansão da atividade agropecuária. “É evidente que o crescimento do desmatamento tem a ver também com a expansão da soja, porém atribuir a ela o fator principal parece não totalmente correto”, dizia o texto. “A lógica que gera o desmatamento está articulada pelo tripé grileiros, madeireiros e pecuaristas”, completou.

A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) afirmou que as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) referentes ao setor produtivo apresentam o segmento de forma “equivocada, pejorativa e descolada de embasamento técnico-científico”. Segundo a entidade, isso induz os estudantes ao erro e cria desinformação sobre a atividade rural no Brasil.

Segundo a Abag, um estudo da Fundação Instituto de Administração (FIA), vinculada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP), mostrou que 88% das menções ao agronegócio em livros didáticos são autorais, sem embasamento científico.

“Mais do que anular as questões, o Ministério da Educação precisa esclarecer à sociedade como pretende interromper esse ciclo de desinformação”, disse a Abag em nota. A entidade afirmou que vai mobilizar o setor, universidades, pesquisadores e educadores para propor apoio ao governo na atualização do conceito de agronegócio no banco de questões utilizado na elaboração das provas do Enem e demais materiais didáticos distribuídos pelo governo federal.

A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) disse que o Enem foi usado como “meio para criminalizar o setor essencial para a segurança alimentar mundial”.

A entidade disse, em nota, que o teste trouxe “ataques ao agronegócio e críticas ao capitalismo” e que os produtores rurais mato-grossenses se sentiram “desrespeitados e injustiçados com tamanha imoralidade”.

A Sociedade Rural Brasileira (SBR) também emitiu uma nota de repúdio nesta segunda-feira (06/11), na qual afirma que tomará medidas cabíveis para que a questão do Enem seja anulada e os danos reparados.

“A Sociedade Rural Brasileira (SRB) vem a público repudiar as informações inverídicas e as generalizações sem fundamento apresentadas aos estudantes brasileiros em temas relacionados à agropecuária, em questões da prova do Enem, realizada neste fim de semana. É fato comprovado pelas maiores universidades do País os avanços tecnológicos do agro brasileiro, que vem reduzindo impactos ambientais, disseminando práticas sustentáveis e garantindo alimentos, emprego e renda para nossa população”, afirma a nota.

 

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