
Na reunião do G20, Haddad defende união internacional para taxar super-ricos
Desigualdade, dívida externa e protecionismo. Estes foram os principais pontos atacados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao falar aos ministros das maiores economias do mundo na solenidade de abertura do encontro do G20, que acontece nesta quarta (28) e quinta-feira (29), no prédio da Bienal, em São Paulo.
Em discurso por transmissão de vídeo – Haddad foi diagnosticado com Covid no fim de semana – o ministro alertou que uma parcela significativa das receitas dos países mais pobres está seriamente comprometida pelo serviço da dívida, em um cenário de juros elevados pós-pandemia.
Ele afirmou que os países mais pobres estão arcando com custos ambientais e econômicos crescentes, ao mesmo tempo que veem suas economias ameaçadas por uma crescente onda protecionista por parte dos países ricos.
O ponto principal foi o combate à desigualdade, reafirmando a proposta de taxação dos super-ricos. “O legado da última onda de globalização foi marcado pela busca de aumento da rentabilidade através da arbitragem trabalhista e regulatória em nível internacional. Ainda que milhões de pessoas tenham saído da pobreza, houve substancial aumento das desigualdades de renda e riqueza em diversos países.”
Haddad lembrou que o 1% mais rico detém 43% dos ativos financeiros mundiais e emitem a mesma quantidade de carbono que os dois terços mais pobres da humanidade. “Chegamos a uma situação insustentável”, alertou.
Um complexo sistema offshore foi estruturado para oferecer formas cada vez mais elaboradas de evasão tributária aos super-ricos, que culminou na crise financeira de 2008, afirmou o ministro brasileiro. Ele propôs que todos os países se unam para taxar as grandes fortunas.
“Precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem a sua justa contribuição em impostos. Além de buscar avançar as negociações em andamento na OCDE e ONU, acreditamos que uma tributação mínima global sobre a riqueza poderá constituir um terceiro pilar da cooperação tributária internacional” defendeu.
“Precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem a sua justa contribuição em impostos. Além de buscar avançar as negociações em andamento na OCDE e ONU, acreditamos que uma tributação mínima global sobre a riqueza poderá constituir um terceiro pilar da cooperação tributária internacional” defendeu.
O enfrentamento à desigualdade e às mudanças climáticas foram apontados por Haddad como os principais desafios a serem enfrentados de forma conjunta pelos países do grupo. “Precisamos entender a mudança climática e a pobreza como desafios verdadeiramente globais, a serem enfrentados por meio de uma nova globalização socioambiental”, enfatizou. Para ele, a desigualdade social deve estar no centro das análises e dos planejamentos econômicos.
“Acreditamos que a desigualdade não deve ser apenas tratada como uma preocupação social, um mero corolário da política econômica. A nossa política é centrar a desigualdade como uma variável fundamental para análise de políticas econômicas. Queremos desenvolver as ferramentas analíticas mais adequadas para isso” disse.
Nesse contexto, Haddad vê os países menos desenvolvidos economicamente mais prejudicados pelos prejuízos causados pelas mudanças no clima mundial.
“A crise climática ganhou força, tornando-se uma verdadeira emergência. Países mais pobres devem arcar com custos ambientais e econômicos crescentes, ao mesmo tempo que veem suas exportações ameaçadas por uma crescente onda protecionista” ressaltou.
O ministro pediu que seja feito um novo entendimento sobre globalização e cooperação internacional, diferente do que ocorreu nas décadas anteriores e vem sendo rejeitado por diversas populações em todo o mundo.
“A atual reação à globalização pode ser atribuída ao tipo específico de globalização que prevaleceu até a crise financeira de 2008. Até então, a integração econômica global se confundiu com a liberalização de mercados, a flexibilização das leis trabalhistas, desregulamentação financeira e a livre circulação de capitais. As crises financeiras resultantes causaram grandes perdas socioeconômicas”.
Fonte: Monitor Mercantil, com Agência Brasil



