
Preço do açúcar sobe no mundo todo e prejudica países mais pobres
O açúcar está sendo negociado mundialmente nos preços mais altos desde 2011, principalmente devido à diminuição das ofertas globais após condições climáticas excepcionalmente secas prejudicarem as colheitas na Índia e na Tailândia, o segundo e o terceiro maiores exportadores do mundo. Nos últimos dois meses, houve um aumento repentino nos preços do açúcar, de cerca de 55%.
O aumento no preço do açúcar é mais um dos efeitos do fenômeno climático natural El Niño, combinado com a guerra na Ucrânia e o enfraquecimento de moedas. A situação se torna ainda mais dramática para os países em desenvolvimento que já lidam com escassez de alimentos básicos, como o arroz, e proibições no comércio de alimentos, que têm contribuído para a inflação alimentar.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) prevê uma queda de 2% na produção global de açúcar na temporada 2023-24, em comparação com o ano anterior, o que se traduz em uma perda de cerca de 3,5 milhões de toneladas, disse Fabio Palmeri, pesquisador de mercado de commodities globais da FAO. Cada vez mais, o açúcar está sendo usado para biocombustíveis, como etanol, então as reservas globais de açúcar estão no nível mais baixo desde 2009.
O Brasil é o maior exportador de açúcar, mas sua colheita só ajudará a cobrir as lacunas em 2024. Até lá, países dependentes de importações – como a maioria daqueles na África subsaariana – permanecem vulneráveis.
A Nigéria, por exemplo, compra 98% de seu açúcar bruto de outros países. Em 2021, proibiu a importação de açúcar refinado, que ia contra um plano de fortalecimento do processamento de açúcar doméstico, e anunciou um projeto de US$ 73 milhões para expandir a infraestrutura de açúcar.
Também na Índia a produção de açúcar deve diminuir 8% este ano, de acordo com a Associação de Usinas de Açúcar do país. A nação mais populosa do mundo também é a maior consumidora de açúcar e agora está restringindo as exportações do produto.
Na Tailândia, os efeitos do El Niño alteraram não apenas a quantidade, mas também a qualidade da colheita. A Associação dos Plantadores de Cana da Tailândia diz esperar que apenas 76 milhões de toneladas de cana-de-açúcar sejam moídas na safra de 2024, em comparação com 93 milhões de toneladas neste ano.
Um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) previu uma queda de 15% na produção da Tailândia em outubro.
Olhando para o futuro, a colheita do Brasil está prevista para ser 20% maior do que a do ano passado, segundo Kelly Goughary, analista sênior de pesquisa na empresa de dados e análises agrícolas Gro Intelligence. No entanto, como o país está no Hemisfério Sul, o impulso para o fornecimento global só virá em março.
Isso se deve ao clima favorável no início deste ano no Brasil, juntamente com um aumento nas áreas onde a cana-de-açúcar foi plantada, de acordo com o USDA. Os próximos meses são a maior preocupação, disse Palmeri, da FAO. O crescimento populacional e o aumento do consumo de açúcar ampliarão ainda mais a pressão sobre as reservas do produto, afirmou.
O mundo agora tem menos de 68 dias de açúcar em estoques para atender às suas necessidades, em comparação com 106 dias em 2020, quando os estoques começaram a diminuir, segundo dados do USDA. “Está nos níveis mais baixos desde 2010”, disse Joseph Glauber, pesquisador sênior do Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares.
A Indonésia, maior importadora de açúcar no ano passado, segundo o USDA, reduziu as importações e a China, a segunda maior importadora, foi forçada a liberar açúcar de seus estoques para compensar os altos preços internos pela primeira vez em seis anos, disse Palmeri.
Para alguns países, importar açúcar mais caro consome reservas de moeda estrangeira, como dólares e euros, que também são necessários para pagar por petróleo e outras commodities cruciais.
Com informações do Canal Rural



