Sob o manto da escuridão, o presidente Vladimir Putin apareceu, na madrugada de sábado para domingo (19/03), para uma “visita de trabalho” a Mariupol, a cidade ucraniana no mar de Azov, que caiu nas mãos da Rússia há 10 meses, depois de ter sido reduzida a escombros pelo bombardeio das tropas russas. A inspeção é a primeira do líder russo nos territórios ocupados do Donbass desde o início da guerra, e acontece logo após o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), que acusa Putin de ter deportado crianças ucranianas para o seu país.
A visita surpresa de Putin foi considerada um gesto de desafio, como observaram analistas internacionais, mas também uma demonstração de que o presidente russo está firme no comando e não se deixou intimidar pelo pedido de prisão emitido em Haia. A agência de notícias estatal russa Tass relatou o presidente russo em Mariupol às 4h,
A reação das autoridades da Ucrânia à visita do chefe do Kremlin não tardou: “Putin é um criminoso, voltou ao local do crime. Ele veio para ver o que ele fez. E pelo que ele será punido”, comentou o prefeito exilado de Mariupol, Vadym Boychenko. O sarcasmo também preponderou nas declarações do ministro da Defesa ucraniano: “Como convém a um ladrão, Putin visitou Mariupol à noite, uma cidade completamente destruída por seu exército. O assassino de milhares de famílias veio admirar as ruínas e túmulos”, disse Oleksiy Reznikov.
O sentido político da presença de Putin na Crimeia e no Donbass também surge nas declarações feitas na TV russa sobre o uso de armas hipersônicas: “Em 2014 (ano da anexação da península ucraniana) a Rússia não tinha essas armas, agora tem. Mas não os usamos para a operação especial”, afirmou o porta-voz presidencial Dmitry Peskov. O porta-voz anunciou uma contra-investigação russa sobre crimes ucranianos, e descreveu as reuniões noturnas de alguns moradores com o presidente Putin como “espontâneas”, bem como uma visita ao apartamento de uma família local. Para o governo da Ucrânia, entretanto, a visita de Putin foi apenas uma armação. Um vídeo mostra o líder russo visitando a filarmônica da cidade reformada após os atentados.
O outro grande teatro da cidade, por outro lado, não foi reconstruído: foi quase totalmente destruído por mísseis russos em 16 de março de 2022, apesar de ser usado como abrigo antiaéreo e “crianças” escritas em letras grandes no telhado . Foram centenas de vítimas e segundo a ONU, este é um dos casos pelos quais Putin pode ser acusado de crimes de guerra. A Ucrânia afirma que mais de 20.000 civis foram mortos em Mariupol. A cidade continua sendo a maior conquista da Rússia nesta guerra. Na verdade, é a única grande cidade ucraniana capturada pelos soldados de Putin.
