O dólar à vista emplacou no fechamento do mercado nesta quarta-feira (19/04) a terceira sessão consecutiva de alta no Brasil, superando novamente a barreira dos 5 reais. Analistas afirmam que o mercado reagiu negativamente à apresentação ao Congresso Nacional do texto do projeto do governo Lula do novo arcabouço fiscal, além de ter sido um dia de ganhos para o dólar no exterior.
A avaliação de que a proposta do novo arcabouço possui inconsistências e exime o governo federal de responsabilidades pelo descumprimento das metas fiscais azedou os negócios desde o início do dia.
Para completar o cenário, a quarta-feira também foi marcada pela aversão a ativos de risco, como o real, em todo o mundo, na esteira de dados ruins de inflação no Reino Unido. Dados do Reino Unido mostraram uma inflação anualizada de 10,1% em março, acima dos 9,8% projetados pelos economistas e dos 9,2% esperados pelo banco central do país.
Os números elevaram entre os agentes do mercado a percepção de que o Federal Reserve pode seguir com a política monetária apertada por mais tempo, o que disparou a aversão global a ativos de risco.
Desta forma, o dólar à vista fechou o dia cotado a 5,086 reais na venda, em alta de 2,20%. Foi a primeira vez que o dólar fechou acima dos 5 reais desde 11 de abril.
“Quando saiu o anúncio do arcabouço, o mercado melhorou, porque ele retirou o risco de descontrole das contas públicas”, comentou Felipe Novaes, chefe da mesa de operações do C6 Bank, referindo-se aos recuos do dólar ante o real em semanas anteriores, que colocaram a moeda norte-americana abaixo dos 5 reais. “Hoje (quarta-feira), o mercado realiza um pouco os ganhos anteriores e também há incertezas sobre o arcabouço.”
De acordo com Novaes, grande parte das incertezas está ligada ao fato de que o arcabouço, para funcionar, depende de novas receitas.
“Governo fala que aumento de imposto não está na mesa, então teria que ser via redução de desonerações (de impostos). Mas tirar desoneração de algum setor sempre vai ser difícil no Congresso”, avaliou.
Economistas ouvidos pela Reuters citaram ainda um desconforto com o fato de, no arcabouço, não haver responsabilização do governo em caso de descumprimento de metas. Além disso, alguns defendem que as contas do governo não fecham.
Fonte: Reuters
