
Reino Unido se prepara para coroação de Charles III em meio a protestos contra a monarquia
Com a proximidade do mês de maio, estão sendo acelerados os preparativos para o dia em que Charles III será oficialmente coroado como rei da Grã-Bretanha, em solenidade religiosa, oito meses após a morte de sua mãe, a rainha Elizabeth II.
A coroação na Abadia de Westminster, que acontecerá no dia 6 de maio, é a primeira na Grã-Bretanha em 70 anos e apenas a segunda na história a ser televisionada. Charles III será o 40º monarca reinante a ser coroado na igreja central de Londres desde o rei Guilherme I em 1066. Fora do Reino Unido, ele também é rei de 14 outros países da Commonwealth, incluindo Austrália, Canadá e Nova Zelândia.
Camilla, sua segunda esposa, será coroada rainha.
Para a realeza, a ocasião – descrita pelo governo como um “novo capítulo em nossa magnífica história nacional” – é motivo de comemoração. Há moedas e louças comemorativas, além de uma receita especial – a quiche da coroação – e uma série de eventos comemorativos durante o fim de semana.
Mas, faltando duas semanas, houve reclamações sobre o custo e os sinais de apatia pública, bem como sobre os planos de protestos republicanos. A cerimônia em si, que deve durar cerca de uma hora, mostra as joias da coroa e a cadeira de coroação no centro da abadia. As joias são normalmente mantidas trancadas na Torre de Londres, enquanto a cadeira é usada em todas as cerimônias de coroação desde 1308.
Apesar dos antigos rituais de abençoar um monarca com óleo sagrado consagrado, haverá alguns acenos para a modernidade. Os netos de Charles e Camilla participarão da cerimônia, assistida por mais de 2.000 dignitários convidados – um quarto dos presentes em 1953. Entre eles estará o filho mais novo de Charles, o príncipe Harry, apesar de suas duras críticas à vida real desde que se mudou para a Califórnia, três anos atrás.
A rota processional do recém-coroado rei e rainha de volta ao palácio – acompanhada por cerca de 4.000 soldados britânicos e da Commonwealth – foi muito encurtada desta vez. A exibição de carruagens douradas, tropas de libré e joias brilhantes ocorre em um momento complicado no Reino Unido, já que muitos britânicos lutam com o aumento dos preços devido à alta inflação.
Sem surpresa, houve alguma resistência ao custo: uma pesquisa esta semana sugeriu que 51% dos entrevistados acreditavam que os contribuintes não deveriam pagar a conta. A coroação de Elizabeth em 1953 custou o total de 912.000 libras – equivalente hoje 20,5 milhões a de libras.
A coroação mais cara tinha sido a do avô de Charles, George VI em 1937. Custou 454.000 libras, ou 24,8 milhões de libras em valores de hoje.
O ministro sênior do governo, Oliver Dowden, prometeu que não haverá “exuberância ou excesso”. Mas ele acrescentou: “É um momento maravilhoso em nossa história e as pessoas não gostariam de economizar.”
A história real e a pompa que a acompanha estão profundamente enraizadas na cultura britânica, com celebrações formais, como casamentos e jubileus, reunidas com grandes multidões. Em 1953, a coroação de Elizabeth, de 25 anos, trouxe um toque de glamour a um país que se recuperava da guerra, mas agora não há o mesmo fervor.
Charles, 74, é uma figura familiar, e o país passou por dramáticas mudanças sociais e políticas nos 70 anos em que ele viveu como herdeiro aparente de sua mãe. Além de ser rei e chefe de estado, Charles lidera a Igreja da Inglaterra, a igreja mãe da comunhão anglicana mundial.
Mas, ao contrário de quando sua mãe aceitou, a freqüência à igreja caiu e a influência mais ampla da religião no país está diminuindo. No último censo em 2021, cerca de 22,2 milhões de pessoas na Inglaterra e no País de Gales (37,2%) relataram “sem religião”. Em 2011, o número era de 14,1 milhões (25,2%).
Uma pesquisa deste mês de abril indicou que, embora muitos estivessem felizes por ter um fim de semana prolongado, pouco mais de um terço (35%) das pessoas “não se importam muito” com a coroação. Pouco menos de um terço (29%) disse que “não se importa”, com a apatia maior entre as faixas etárias mais jovens.
Os mais jovens também são mais propensos a querer um chefe de Estado eleito, e os republicanos aproveitaram a coroação para transmitir seu ponto de vista. O grupo de campanha Republic está planejando protestos no Dia da Coroação, com apoiadores em camisetas proclamando “Não é meu rei”.
“A coroação é uma celebração do poder e privilégio hereditário, não tem lugar na sociedade moderna”, disse o presidente-executivo da Republic, Graham Smith.
O sentimento republicano também está borbulhando nos reinos da Commonwealth, principalmente no Caribe, prometendo diminuir ainda mais o alcance global da família real britânica.
Reportagem publicada originalmente no jornal The Japan Times



