O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por maioria, nesta quarta-feira, (26) definir um limite de 40 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas como critério objetivo para diferenciar usuário da droga do traficante.
Nos últimos meses, o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil tem sido o palco de um debate crucial sobre a diferenciação entre usuários e traficantes de maconha. Esta discussão é fundamental para a justiça penal e para a política de drogas no país, que tem lutado contra a criminalização excessiva e as desigualdades no tratamento de indivíduos detidos por posse de pequenas quantidades de drogas. A seguir, exploramos os detalhes e implicações dessa deliberação.
Contexto e Importância da Discussão
A atual legislação brasileira sobre drogas, estabelecida pela Lei nº 11.343/2006, não especifica uma quantidade mínima que diferencie um usuário de um traficante. Isso leva a uma grande discricionariedade por parte das autoridades policiais e judiciais. Muitas vezes, indivíduos portando pequenas quantidades de maconha acabam sendo presos e processados como traficantes, o que resulta em penas severas que variam de cinco a vinte anos de prisão.
Propostas e Votações no STF
O STF formou uma maioria para determinar uma quantidade fixa que caracterize o porte de maconha para uso pessoal. No entanto, ainda há divergências significativas entre os ministros sobre qual deve ser essa quantidade. Os votos até agora variam entre 25 e 100 gramas. O ministro Cristiano Zanin propôs um limite de 25 gramas, enquanto Luís Roberto Barroso sugeriu 100 gramas. Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Rosa Weber apoiam um limite de 60 gramas, com a condição de que não haja outros indícios de tráfico, como a posse de grande quantidade de dinheiro ou porções menores de drogas distribuídas separadamente.
O ministro Edson Fachin, por sua vez, não sugeriu uma quantidade específica, mas enfatizou a necessidade de estabelecer um critério objetivo para diferenciar usuários de traficantes, afirmando que a competência para tal seria do Congresso Nacional.
Descriminalização e seus Impactos
Além da definição de uma quantidade limite, a discussão no STF também aborda a descriminalização do porte de maconha. Atualmente, a maioria dos ministros votou a favor da descriminalização do porte de maconha para consumo pessoal. Isso significa que, se a descriminalização for aprovada, portar maconha dentro do limite estabelecido não será mais considerado um crime, mas poderá resultar em sanções administrativas, como advertências ou a obrigação de participar em programas educativos.

Desigualdades na Aplicação da Lei
Um dos argumentos principais para a definição de uma quantidade fixa e para a descriminalização é a desigualdade na aplicação da lei. Estudos apresentados no STF, como o da Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ), indicam que a atual falta de critérios claros resulta em preconceitos e injustiças, afetando desproporcionalmente pessoas de classes sociais mais baixas e de determinadas regiões geográficas. O ministro Alexandre de Moraes destacou que a pesquisa revela “injustiças acobertadas pela lei vigente”, sugerindo que a discricionariedade atual permite que preconceitos influenciem as decisões judiciais.
Posições Divergentes
Apesar do consenso em relação à necessidade de definir um critério objetivo, há divergências quanto à extensão da descriminalização e à quantidade específica de maconha que deveria ser permitida para uso pessoal. Alguns ministros, como Gilmar Mendes, inicialmente defenderam a descriminalização do porte de todas as drogas, mas depois ajustaram suas posições para focar exclusivamente na maconha, após ouvir as opiniões de outros ministros como Fachin, Barroso e Moraes.
Pedido de Vista e Próximos Passos
O julgamento, que parecia estar perto de uma conclusão, foi adiado após o ministro André Mendonça pedir vista. Esse pedido de vista permite que Mendonça analise mais detalhadamente o caso antes de proferir seu voto final. O prazo regimental para que ele devolva a ação ao plenário é de 90 dias, e espera-se que o julgamento seja retomado em breve.
Implicações Finais
A decisão do STF tem o potencial de transformar a política de drogas no Brasil, trazendo mais clareza e justiça ao tratamento de casos de posse de maconha. Se o tribunal decidir pela descriminalização e definir um limite claro, isso poderá reduzir significativamente o número de prisões por pequenas quantidades de drogas e ajudar a aliviar o sistema prisional brasileiro, que está superlotado.
Em resumo, a definição de um limite de 40 gramas para diferenciar usuários de traficantes de maconha pelo STF é uma discussão complexa e de grande impacto. A decisão final terá repercussões profundas na justiça criminal, na política de drogas e na sociedade brasileira como um todo.
Por: Redação Infoflash