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Artigo de Célia Ladeira – “Clima de ódio: a mídia é culpada?”

* Por Célia Ladeira

Ler noticiários ou assistir a programas jornalísticos na TV provocam uma indigestão que não tem sal de frutas que cure. A maioria da atividade jornalística hoje em dia se transformou num acirramento de ódios que transcendem a esquerda ou a direita. Basta um deputado, seja de que partido for, alvejar um colega de plenário com um adjetivo desagradável para que a mídia aproveite o episódio e estabeleça um debate.

Algumas emissoras de televisão inauguraram até programas de debate, com títulos sugestivos como “Arena” e “Grande Debate”. O pobre telespectador que imagina que vai assistir algo inteligente, com argumentos baseados em teorias políticas, perde seu tempo. O debate acaba reproduzindo o entrevero do plenário polítiico. Questões como “o deputado deve ser cassado por ter usado tal palavrão?” são postas a disposição do público, que nem tem como opinar. Pseudocomentaristas se encarregam de preencher o horário televisivo sem entrar no mérito do fato em julgamento.

A pior parte destes programas é quando se percebe que os comentaristas já foram selecionados por apoiarem um lado esquerdo ou um lado direito. Reafirmam as posições partidárias sem nem ao menos se dar ao trabalho de investigar os fatos, analisar depoimentos, criticar posições por causa de erros ou acertos e independente da posição política.

Ao transformar deslizes em grandes questionamentos a imprensa não contribui para informar leitores ou telespectadores sobre os dados relevantes em discussão. Transformam a não notícia em algo aparentemente com valor e que só serve para acirrar o clima de ódio que atinge a todos e que se espalha por outros setores além da política, como o esporte.

Hoje, os torcedores de times de futebol já não brigam depois da partida, mas começam a se agredirem antes mesmo de entrarem em campo.

* Célia Ladeira é jornalista, professora universitária e PhD em Comunicação

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