No início de maio, o jornal “Prensa Libre” publicou uma pesquisa de preferências eleitorais com resultado surpreendente na Guatemala. A pesquisa apontou Carlos Pineda, um agricultor que não faz parte da tradicional política partidária guatemalteca, como líder em intenções de voto. Pineda construiu um perfil de empresário de sucesso por meio de vídeos no Tik Tok e outras redes sociais.
A enquete deu-lhe 23% das preferências e com isso abriu-se um novo cenário eleitoral, com Pineda indo para o segundo turno e com amplas chances de se tornar presidente. Sua candidatura, no entanto, foi ameaçada por uma liminar imposta por rivais políticos perante o Tribunal Eleitoral, que alegam irregularidades durante o processo de proclamação da candidatura de Pineda. Nesta sexta-feira (19/05), o tribunal suspendeu, pelo menos temporariamente, a sua candidatura e o candidato anunciou que recorrerá ao Tribunal Constitucional da Guatemala, o Tribunal Constitucional.
“O sistema está lutando contra mim e é porque não sou um candidato adequado para nenhum setor político. Lutar contra o sistema não é fácil. Todos os políticos dividem o bolo, isso tem sido problema deles, e é por isso que eles me atacam ”, disse o presidenciável.
Carlos Pineda chamou sua rápida ascensão nas pesquisas de “revolução eleitoral”. A verdade é que ele se posicionou acima de candidaturas tradicionais como Sandra Torres, que perdeu a última eleição contra o atual presidente, Alejando Giammattei, e Zury Ríos, filha do ditador Efraín Ríos Montt, que no início do ano liderou a intenção de votos, mas que agora caiu para o quarto lugar entre os candidatos à Presidência.
“Tornou-se uma espécie de espinho no lado de muitos dos outros concorrentes. De alguma forma rompe com o molde que haviam planejado, pois a ideia era que a disputa fosse entre Zury Ríos e Sandra Torres e agora, de repente, são ultrapassados na curva de Pineda, que já mexeu no tabuleiro”, explicou ao site El Pais Renzo Rosal, cientista político e professor universitário. “Este é um fenômeno particular, ele é um candidato de direita, populista, mas também tem um discurso antioligárquico, recursos que acabam sendo uma ameaça à ordem estabelecida para estas eleições e por isso a probabilidade de que ele ficar de fora é muito alto”, acrescenta Rosal.
Pineda conseguiu chegar ao topo da intenção de voto graças à sua capacidade de usar as redes sociais, principalmente o Tik Tok, onde tem quase um milhão de seguidores. Nessa rede, ele aparece vestido de jeans, botas e chapéu visitando povoados da Guatemala com uma mensagem folclórica. Recentemente, expressou sua admiração pelo governo do presidente salvadorenho Nayib Bukele, e viajou para El Salvador para mostrar a seus seguidores as diferenças entre o país governado com mão pesada por Bukele e a Guatemala hoje.
“Vim a El Salvador para conhecer a prosperidade de um país quando o dinheiro não se rouba e chega”, escreveu no Twitter com um vídeo que o mostra desembarcando em território salvadorenho. “Você é famoso no Facebook”, diz um funcionário do aeroporto. “Vim para ver os avanços, o desenvolvimento que ocorreu em El Salvador ultimamente”, responde Pineda. Nos vídeos a seguir, o candidato mostra o que considera mudanças positivas realizadas por Bukele: vai às praias, visita farmácias para comparar preços de remédios e fala sobre o combate à corrupção, que é, segundo ele, sua principal batalha . “Meus respeitos ao presidente Nayib Bukele”.
No Twitter ele se autodenomina um “empresário apaixonado” e “pró-vida” e em seus discursos sempre cita Deus e pede a seus seguidores que orem por sua vitória nas eleições. Pineda já havia flertado com uma candidatura em eleições anteriores, mas suas aspirações não se concretizaram. Depois começou a esculpir a imagem de homem de sucesso nas redes sociais, onde também se solidariza com os mais desfavorecidos de um país assolado pela pobreza.
“Durante os furacões Eta e Iota, alguns empresários emprestaram seus aviões e helicópteros para transportar alimentos e ajuda às comunidades afetadas e foi aí que começamos a conhecer Carlos Pineda e o uso que ele faz das redes sociais. Você tem que vê-lo como um representante de um setor emergente, de grupos interessados em fazer negócios com o Estado, mas também negócios ilegais, que estiveram presentes na política partidária nas últimas duas décadas, mas em espaços marginais. Pineda é o representante desse setor”, explicou o acadêmico Rosal.
Embora todos os candidatos na disputa afirmem que vão lutar contra a corrupção, os analistas acham difícil que essas promessas sejam cumpridas. “Pineda surge do nada para mudar a dinâmica eleitoral e vem com muitos recursos próprios, com um posicionamento impressionante nas redes sociais, que não foi criado ontem, mas de muito tempo atrás. Por isso os setores tradicionais, os partidos políticos, os setores empresariais clássicos, a oligarquia e os mesmos concorrentes eleitorais veem sua presença como uma grande pedra no sapato”, afirmou o analista ao El Pais.
Fonte: El Pais
