Carmen Lúcia diz no Roda Viva que houve excessos e erros na Lava Jato

Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (06/03), a ministra Carmen Lúcia, do STF, afirmou que houve excessos e erros nas investigações e decisões da Operação Lava Jato. A ministra fez a afirmação ao responder a questionamento da jornalista e apresentadora do Roda Viva, Vera Magalhães, sobre eventuais recuos do STF em relação à operação contra a corrupção.
“O Supremo só julgou, no caso da Operação Lava Jato, os recursos. Porque os processos tramitavam em primeira instância, portanto o pouco que chegou foi em Habeas Corpus ou em recursos. O que fica de lição, é principalmente que corrupção precisa ser investigada, e acho que ninguém duvida disso. Tem que ser processada legalmente. E, além disso, qualquer investigação, de qualquer natureza, qualquer que seja o crime, qualquer que seja a pessoa implicada precisa cumprir o devido processo legal”, disse a ministra.

Em outro momento da entrevista, a ministra Carmen Lúcia frisou que o Poder Judiciário é “um ambiente majoritariamente machista” e que é preciso maior representatividade feminina nos espaços de poder. Carmen Lúcia salientou que as mulheres sempre ficam “silenciadas pelas palavras”, ao comentar casos em que foi interrompida por colegas homens na Corte.

“Nós ficamos silenciadas pela palavra, pela voz mais alta, mais grave, dos homens. Pelos espaços que eles tiveram para falar. Muitas vezes há um ambiente tal que eles nem se dão conta que estão interrompendo mais as mulheres do que outros homens”, disse a ministra. “O ambiente do Judiciário é machista, majoritariamente machista. Basta ver que na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a maioria é de mulheres, mas nós nunca tivemos na história uma mulher presidindo a OAB”, acrescentou.

A magistrada foi questionada sobre um episódio no ano passado no qual, ao tentar pautar um processo que não estava previsto, foi interrompida diversas vezes pelos colegas homens. “Isso se compõe em uma sociedade que tem essa característica de predomínio dos homens em cargos de poder, e é exatamente por isso que é necessário que a gente trabalhe cada vez mais isso”, enfatizou.

Carmen Lúcia comentou também a indicação para a segunda vaga que se abrirá para o STF neste ano, após a saída da presidente da Corte, ministra Rosa Weber, em outro. Para ela, a representatividade feminina é algo que “nunca saiu” para as mulheres no Brasil, como é visto pela presença de apenas duas mulheres na Suprema Corte.

“No caso dessas listas, que você chama de listas, são nomes, figuras muito importantes do Direito que se projetam e quem por isso mesmo, são lembrados”, afirmou Carmen. “Não é possível que não se lembrem de tantos nomes de mulheres importantes que estão atuando no Judiciário, na advogacia, no Ministério Público, e que podem ser lembrados”, completou.

A ministra, porém, pontuou que a escolha é do presidente Lula, que a indicou ela e Rosa Weber ao STF durante os primeiros mandatos. “Tenho a convicção de que, sendo este um presidente que sempre lembrou das pautas daqueles que são iguais em direitos, mas minoritários no desempenho dos seus direitos, pelo menos que ele avalie e leve em consideração [nomes de mulheres] no momento de sua escolha”, disse Carmen Lúcia.

Sair da versão mobile