A reunião do Conselho de Segurança, neste domingo (14/04), para lidar com os ataques iranianos sobre Israel, se transformou em uma troca de acusações, revelou a dimensão da tensão global e um profundo racha entre as potências. EUA, Irã e Israel ainda usaram o encontro para fazer ameaças mútuas.
A sessão terminou sem uma declaração final, sem um acordo para condenar o Irã pelos mísseis disparados e sem novas sanções, como pediam israelenses. Não estava previsto que houvesse uma votação sobre uma resolução. Mas, antes do encontro, havia a esperança de que o órgão pudesse produzir pelo menos uma declaração pública sobre a crise ou mesmo um comunicado de imprensa. Nada disso foi possível.
O encontro começou com um alerta do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre o fato de o Oriente Médio estar “à beira do abismo” e que a segurança mundial se deteriorava “a cada hora”.
Mas quando os governos tomaram a palavra, o que se viu foi o colapso de qualquer espaço para uma posição comum. Para Teerã, a chuva de mísseis e drones disparados no sábado era uma resposta ao fato de que seu consulado em Damasco foi alvo de um ataque no dia 1 de abril. Naquele momento, um representante do alto escalão da Guarda Revolucionária foi morto.
No Conselho de Segurança, Israel compara líder iraniano a Adolf Hitler
No encontro, o embaixador de Israel na ONU, Guilad Erdan, chegou a comparar o governo iraniano ao Terceiro Reich, na Alemanha, e o líder iraniano Ali Khamenei a Adolf Hitler. “Eles agem como o regime nazista”, disse o diplomata. De acordo com ele, os iranianos podem levar a comunidade internacional a viver uma 3ª Guerra Mundial, e insistiu que existe o risco de que Teerã se transforme numa potência nuclear. “Tentamos avisar a comunidade internacional. Mas nada foi feito”, disse.
Erdan alertou que Israel tem o “direito legal de retaliar”. “Não aceitamos inação e vamos defender nosso futuro”, disse.
O diplomata chamou o Irã de “país pirata” e “país terrorista”, e fez três pedidos:
– Para todas as sanções possíveis sejam implementadas.
– Para que os iranianos sejam expulsos de todos os comitês da ONU.
– Para que a Guarda Revolucionária seja considerada uma entidade terrorista
“Pare o Irã hoje”, disse Erdan, que também acusou a comunidade internacional de não agir. “O que vocês fizeram para defender o mundo do Irã?”, questionou. Segundo ele, o mundo ficou em silêncio por anos, enquanto o regime iraniano se expandia.
“A máscara caiu e as luvas foram colocadas. O Irã precisa pagar um preço elevado por crimes”, disse. Na sala, diplomatas sorriram quando o israelense acusou Teerã de não cumprir as resoluções da ONU. Israel é frequentemente acusado de ignorar as resoluções adotadas pelo Conselho de Segurança.
“Israel é criança mimada”, rebate iraniano
Os ataques do diplomata israelense foram respondidos, momentos depois, pelo embaixador do Irã na ONU, Amir Iravani, que chamou Israel de “criança mimada” que não aprendeu os limites do que pode fazer. Segundo ele, a ação militar que seu país adotou era “necessária e proporcional”. “Foi um gesto de autodefesa e Israel precisa ser punido”, disse.
Seu argumento foi de que o ataque era uma resposta ao fato de Israel ter atacado o consulado iraniano em Damasco, há 15 dias.
No Conselho de Segurança, o diplomata acusou o Ocidente de “fechar os olhos” para quem causou a atual crise e chamou de hipócritas os governos da França, Reino Unido e EUA, que bloquearam há 15 dias uma declaração conjunta de condenação aos ataques israelenses contra o consulado iraniano em Damasco. “Usam mentiras e desinformação”, disse.
O embaixador ainda lançou duros ataques contra a delegação israelense, acusando o governo de Benjamin Netanyahu de cometer um “genocídio e crimes atrozes”. O Irã ainda qualificou as operações israelenses como “terroristas”.
A intervenção no Conselho de Segurança ainda foi marcada por um alerta dirigido aos EUA. O Irã insistiu que “não quer um confronto com os EUA”. “Mostramos moderação depois que os americanos interceptaram mísseis. Isso mostra que queremos desescalar e que não queremos expandir o conflito”, argumentou.
“Mas se os americanos iniciarem uma operação militar, vamos usar meios proporcionais”, disse. “Não vamos hesitar”, insistiu o diplomata.
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