Padre Kelmon articula criação, em Roraima, de espaço para acolher mulheres venezuelanas grávidas em situação de rua

Em sua visita a Roraima, o sacerdote Padre Kelmon falou sobre a criação de projetos sociais para a população venezuelana e a ampliação da igreja ortodoxa no Estado. Ele está em Boa Vista desde a última quinta-feira (15/06), e esteve na fronteira entre o Brasil e a Venezuela para denunciar a situação de penúria vivida por cidadãos venezuelanos que diariamente tentam vir para o lado brasileiro.

Em entrevista ao jornal Folha de Boa Vista, o Padre Kelmon, que foi candidato à presidência do Brasil nas eleições de 2022, explicou que a visita foi motivada após a fala do presidente Lula sobre o governo venezuelano de Nicolas Maduro ser “vítima de uma narrativa antidemocrática e autoritarismo”. Padre Kelmon se interessou em visitar Roraima e conhecer a realidade da migração. Para isso, o religioso  recebeu suporte de apoiadores roraimenses que viabilizaram a sua visita ao Estado e a ida à fronteira.

“Estou aqui em Roraima para confirmar que existe, de fato, um problema humanitário gerado pelo comunismo e socialismo venezuelano. E para que as pessoas no Brasil saibam que são mentiras, quando dizem que são narrativas o que acontece na Venezuela e aqui. Eu convido a qualquer brasileiro que tenha dinheiro, e condição de fazer isso, venha fazer uma viagem e comprovar com seus olhos como eu acabei de fazer”, disse Padre Kelmon.

Durante dois dias e meio em que esteve no Estado de Roraima, Padre Kelmon foi à cidade de Santa Elena de Uairén (VEN), em Pacaraima, e também na rodoviária internacional de Boa Vista. “É muito desumano o que eu vi. Crianças chegando em Pacaraima com sua mãe, com seu pai, apenas com uma mala, chorando com fome, sem sonhos. Tiraram tudo deles”, afirmou.

Na visita que fez a Pacaraima, Padre Kelmon disse ter constatado o sofrimento de famílias venezuelanas, que vivem em situação de miséria absoluta. Segundo Padre Kelmon, as medidas impostas pelo governo Nicolas Maduro caracterizam um regime de morte que penaliza a população. “São famílias todas destroçadas pelos comunistas, destroçadas por esse regime de morte, pessoas que saem da Venezuela rumo ao Brasil buscando uma esperança, porque tiveram seus sonhos roubados e destruídos”, diss.

Por coincidência, Padre Kelmon testemunhou, em sua visita, a manifestação de empresários no Centro Cívico contra o embargo da Venezuela a carnes e frios brasileiros. No entanto, o que mais chamou atenção do padre foi a quantidade de mulheres venezuelanas grávidas e puérperas nas ruas.

“Eu estive à noite lá [na rodoviária] e me surpreendi com o que vi. Dezenas de mulheres grávidas, outras com os filhos de quinze dias, de um mês, dois meses nos braços. Não tem onde tomar banho, não tem onde dormir, não tem privacidade nenhuma. Uma estava com um filho de 20 dias nos braços e me disse que estava com pontos por causa da cesárea”, afirmou.

Padre Kelmon, junto com Padre Lucas, secretário-geral do Vicariato da Igreja Ortodoxa do Peru no Brasil, aproveitou sua estada na cidade de Santa Elena para conversar com Monsenhor Gonzalo, bispo vicariato do município venezuelano. O objetivo da visita, segundo ele, foi o de buscar unir forças entre as duas igrejas, a católica romana da Venezuela e a ortodoxa do Peru, para cuidarem juntos dos migrantes venezuelanos que diariamente chegam ao Brasil, especialmente as mulheres grávidas e as crianças.

“Estivemos na Diocese, junto com Padre Lucas, para tratarmos da unidade pastoral que queremos estabelecer com a igreja católica romana venezuelana, na pessoa do Monsenhor Gonzalo, o bispo local. Conversamos bastante sobre o êxodo venezuelano para o Brasil, para Boa Vista e Pacaraima. Conversamos sobre as causas para esse êxodo, principalmente o comunismo que domina aquele país, e como resolver a situação de acolhimento, de interiorização dos venezuelanos que chegam. O Brasil já faz um bom trabalho, mas falta o trabalho espiritual com as pessoas que chegam. Discutimos como as congregações podem trabalhar juntas, em Boa Vista, em uma missão paroquial, para podermos cuidar desses venezuelanos que chegam ao Brasil. Pretendemos construir aqui a Casa da Vida, para acolher as mulheres grávidas que estão na ruas, e as mães com filhos que estão em situação de rua. Nessa casa vamos oferecer a eles abrigo, assistência ginecológica, pediátrica, para acompanhar a gestação, uma cama para dormir, um banheiro para tomar banho”, destacou Padre Kelmon.

Projetos sociais
Padre Kelmon disse ao jornal Folha de Boa Vista que essa não será a única visita a Roraima. O religioso pretende retornar em, no máximo, um mês para dar início a projetos e ações socioassistenciais aos migrantes, principalmente às mulheres grávidas e puérperas, independentemente da nacionalidade ou renda.

“Fazer uma ação com eles é fácil, mas não resolve o problema. Eu vou voltar. Aqui ficarão Joaquim [Ruiz, ex-deputado], Tomé [empresário que lhe acolheu] e os que estão nos apoiando nessa empreitada. E nós vamos realizar alguns projetos sociais concretos para tirar essas grávidas das ruas, oferecer cama, banheiro, médico ginecologista, abrigo, lugar para rezar e descansar, e espaço para gestar seu filho com dignidade. É um futuro brasileiro que vai nascer aqui, independente”, destacou.

Além desse projeto, Padre Kelmon tem interesse em montar a primeira faculdade ortodoxa brasileira para dar assistência aos adolescentes e jovens que precisam dar continuidade aos estudos. Ele disse que pretende ainda criar o primeiro seminário ortodoxo para formar padres, uma vez que sacerdotes da comunidade estariam vindo para o Estado.

“A igreja ortodoxa está vindo para cá. Eu estou vindo, vou residir por aqui por um tempo para que possamos enraizar todo esse projeto social e espiritual. Depois assumirá padre Lucas, o secretário da igreja, vindo morar e eu retorno para Salvador”, disse Padre Kelmon.

Com informações do jornal Folha de Boa Vista

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