Viúva de Dom Phillips volta à Amazônia com autoridades e ativistas

Alessandra Sampaio, viúva do jornalista britânico Dom Phillips, assassinado no Amazonas no ano passado junto com o indigenista Bruno Pereira, falou ao jornal inglês The Guardian sobre seu desejo de aumentar a conscientização a respeito da crise urgente e complexa que a Amazônia enfrenta. Alessandra Sampaio viajou nesta segunda-feira (27/02) para a região do vale do Javari com uma delegação de ministros, autoridades e ativistas brasileiros, além da embaixadora britânica Stephanie Al-Qaq, e da viúva de Bruno Pereira, Beatriz Matos. Ao jornal, Alessandra falou sobre sua expectativa com a viagem.
“É muita emoção. Será minha primeira vez na Amazônia e estou um pouco tensa com as coisas que vou ver e como vou me sentir”, disse Alessandra Sampaio no último domingo (26/02). “Não faço ideia de como vou reagir, se vou quebrar… É a primeira vez que vou ver a floresta. Sempre que Dom voltava de suas viagens [Amazônia] ele dizia: ´Alê, você tem que ir! Alê, você ia enlouquecer! Alê, se você tivesse visto o que eu vi!´” acrescentou ela. “Eu dizia a ele: ´Eu vou, Dom, eu vou!´ Porque, como muitos brasileiros, não fui a nenhum dos estados amazônicos”, completou.

Alessandra Sampaio disse que se sentia otimista com as promessas que o governo Lula fez para defender a Amazônia e as comunidades indígenas sobre as quais Phillips, colaborador de longa data do Guardian, estava relatando quando foi morto em junho passado.

“Há uma grande esperança. Sinto um clima de otimismo porque há muito o que reconstruir”, disse a viúva de Dom Phillips, lembrando a decisão de Lula de colocar uma índia à frente da Funai e criar um ministério dos povos indígenas.

Dom Phillips, 57 anos, e Bruno Pereira, 41, foram baleados em junho passado enquanto desciam o rio Itaquaí após uma viagem de reportagem para um livro que o jornalista britânico estava escrevendo sobre a Amazônia. Alessandra Sampaio disse que espera aproveitar sua visita para agradecer as equipes de busca indígenas que passaram 10 dias vasculhando os rios e florestas tropicais do Javari depois que os dois homens desapareceram. “Foi um movimento tão bonito e serei eternamente grata”, disse ela sobre os esforços de busca.

No mês passado, a polícia afirmou ter identificado o mandante do crime, uma notória figura local chamada Rubens Villar Coelho, acusado de comandar uma máfia da pesca ilegal na região de Javari. Outros três homens estão presos acusados ​​de emboscar e matar Phillips e Pereira enquanto tentavam chegar à cidade ribeirinha de Atalaia do Norte.

Alessandra Sampaio disse ao The Guardian que seus advogados duvidam que o julgamento seja realizado antes do ano que vem, apesar de ser um caso tão importante. Mas ela viu a decisão do novo governo de convidá-la para visitar o Javari como um gesto poderoso que mostrava seu compromisso com a justiça.

“Acredito genuinamente na justiça brasileira e espero que… os réus tenham a chance de se defender e sejam julgados de acordo com a lei e – se for comprovado que fizeram isso – que sejam condenados.” Quase nove meses depois que o assassinato de Phillips chocou o mundo, Sampaio disse que ainda estava aceitando sua perda. “Reconstruir não é fácil. A vida vem em ondas. Há momentos em que estou melhor. Há momentos em que sou pior… Há momentos em que as coisas parecem não fazer sentido. Mas o que eu sempre digo é que mesmo tendo perdido meu companheiro de vida, ainda estou viva e tenho que seguir em frente”, disse ela.

A viúva de Dom Phillips acredita que uma de suas novas missões é a de aumentar a conscientização sobre a complexa crise ambiental que a Amazônia enfrenta e o risco que o desmatamento desenfreado representa para a humanidade em termos de crise climática e futuras pandemias.

“Não sou jornalista nem ambientalista. Mas cada vez mais vejo que a Amazônia não é responsabilidade apenas do Brasil ou do governo brasileiro – é responsabilidade de todos”, disse Sampaio. “Dom tinha uma conexão incrivelmente forte com a natureza. Ele costumava dizer que via Deus na natureza”, acrescentou Alessandra Sampaio, prometendo defender as questões e as comunidades que lhe eram caras. “Não considero uma obrigação continuar seu legado. Vejo isso como um privilégio.”

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